A leitura do Evangelho combina duas passagens iluminadoras para a compreensão da missão de Jesus e nossa, seus discípulos e discípulas. Primeiramente, nos versículos iniciais (1,1-4), Lucas expõe o propósito de seu escrito a Teófilo – nome que, em grego, significa “amigo/amante de Deus” e pode funcionar como o vocativo: “Querido leitor”. A segunda passagem (4,14-21) relata a visita de Jesus a Nazaré, quando inicia a pregação do Reino de Deus. Esses dois trechos são acompanhados pela primeira leitura, que narra um dos momentos mais bonitos da história do povo hebreu, no retorno do exílio. Um fio condutor une os três textos: a Palavra de Deus está sempre em ação. Escutá-los neste “domingo da Palavra de Deus” – comemoração instituída pelo papa Francisco em 2019 – é valorizar a fonte que alimenta a missão da comunidade e do/a discípulo/a de Jesus.
No Evangelho, para anunciar sua missão, Jesus inscreve-se na tradição judaica do ano jubilar e sabático (Lv 25,8-17; Ex 23,10-11), em que a vida é renovada. A passagem do profeta Isaías (61,1-3a), lida por ele, lembra um tempo de cativos, oprimidos, pobres, cegos. O profeta foi enviado, naquele contexto, para anunciar a libertação a essa categoria de pessoas marginalizadas. A libertação, porém, manifesta-se plenamente em Jesus, que não apenas anuncia a salvação, mas também a realiza em sua própria pessoa.
O gesto acrescentado por Lucas – Jesus fecha o livro e o devolve –, o qual não vemos em Esdras (este apenas abre o livro, cf. primeira leitura, v. 5), significa que, agora, o próprio Jesus é o Livro, a Palavra de Deus. Trata-se de um convite a fazermos uma conversão de leitura: Cristo é a Lei, Palavra “que dá vida”. Canta o salmista: “A lei do Senhor é perfeita, conforto para a alma” (Sl 19,8). Tal lei ou instrução ensina-nos a viver na fraternidade, e esse convite vale em todas as épocas, tanto no tempo de Isaías como no de Esdras. Jesus, comparando-se à lei antiga, vai definitivamente realizá-la, formando nova humanidade, pautada na justiça e na fraternidade.
A celebração da Palavra é um marco no nosso caminho, para justamente vivermos e celebrarmos aquele que, sendo a Palavra de Deus, nos incentiva a tornar visível o projeto da nova humanidade. Essa Palavra continua viva em seus discípulos e é proclamada, em nossas comunidades, por homens e mulheres que o Espírito Santo capacita para darem continuidade à missão cristã no serviço aos necessitados, os quais sempre foram e serão os queridos de Jesus.
Christian Dino Batsi, ssp
O objetivo deste periódico é celebrar a presença de Deus na caminhada do povo e servir às comunidades eclesiais na preparação e realização da Liturgia da Palavra. Ele contém as leituras litúrgicas de cada domingo, proposta de reflexão, cantos do Hinário litúrgico da CNBB e um artigo que trata da liturgia do dia ou de algum acontecimento eclesial.
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