Família, lugar de múltiplas vozes | Paulus Editora

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Família

23/11/2013

Família, lugar de múltiplas vozes

Por Suzana Coutinho

Não é difícil encontrar, hoje, famílias que são formadas por pessoas de gerações diferentes: idosos, adultos, jovens, adolescentes e crianças convivendo num único núcleo familiar. E, ao contrário das “famílias margarinas”, onde tudo parece se encaixar harmoniosamente, vivem e convivem com suas diferenças, nem sempre de forma “pacífica”. Pequenas “guerras” se instalam diante dos diferentes modos de conceber a vida, seus limites e suas possibilidades.

Entre os que conhecem bem as situações vivenciais e os que buscam aprendê-las com suas próprias experiências parece existir, às vezes, uma grande barreira. Em certas fases da vida, parece mesmo haver uma vontade e uma necessidade de romper com o conhecimento do outro para crescer a partir das próprias experiências. Enquanto, em outras fases, a experiência acumulada parece já revelar tudo da vida. Idosos, adultos e jovens estão em processos diferentes e precisam aprender a reconhecer isso, não como quem se cala diante do que deve ensinar aos outros, ou aprender com eles, mas, como quem busca compreender o ritmo de cada um. Tanto é importante reconhecer o que o outro já caminhou e pode ensinar, como o que o outro tem para ampliar os horizontes, ser capaz de ir além do que já se caminhou.

A parábola do Pai Misericordioso, ou do Filho Pródigo (Lc 15, 11-32), nos revela alguns conflitos familiares nascidos de visões diferentes entre seus membros. O filho mais novo tem desejos e sonhos de liberdade, o mais velho deseja ser reconhecido pela responsabilidade e o pai apresenta um olhar amoroso e acolhedor. Cada um, ao seu modo, nem sempre é compreendido por todos da família. O amor vence a razão, a lógica estabelecida, os critérios pressupostos de pertença e responsabilidade.

O grande desafio das famílias assim constituídas é o de valorizar cada voz que se faz presente nela: dos que tem grande experiência de vida e dos que querem aprender tomando as próprias decisões. Conciliar as diferenças nunca foi fácil, para ninguém. É exercício diário, pessoal e coletivo. É preciso aprender a ouvir o outro, a partir de seu lugar, reconhecer as riquezas do outro e as próprias limitações. Mas, não se pode abrir mão das responsabilidades que cada etapa da vida apresenta: os adultos não podem deixar de ensinar e os mais jovens, de aprender. É possível, no entanto, reconhecer que os mais maduros podem, algumas vezes, aprender com os mais jovens.

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