Entre a graça e o merecimento | Paulus Editora

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Família

17/02/2014

Entre a graça e o merecimento

Por Suzana Coutinho

A sociedade atual tem sido regida, em vários campos da vida humana, da economia à religião, pelo conceito do “merecimento”. Essa lógica move também certa pedagogia familiar e vai-se reproduzindo e fortalecendo na família as ideias de uma “teoria do merecimento”. Muitos pais e mães, considerando que é importante para os filhos se saírem bem na vida escolar, prometem recompensas materiais para os “aprovados” ou os com “boas notas”. Esquecem, porém, que ir bem nos estudos pode ser condição para o amadurecimento da vida pessoal, comunitária e social. Que pessoas bem preparadas pelos processos formais de educação podem colaborar, de maneira mais profunda, com a sociedade.

Essa teoria se contrapõe a da graça. Ser agraciado(a) é receber algo sem merecer, simplesmente pela bondade de quem doa. Se há ajuda, colaboração, é porque quem o faz sente-se livre para fazê-lo. Não é preciso nada em troca, apenas o sentimento e o desejo de realizar algo em favor de alguém ou de um grupo.

Quando os membros da família decidem viver na liberdade da graça e não no “toma lá, dá cá” do merecimento, fazem o exercício da vida no amor de Deus. Pensando bem, alguém ousaria dizer que faz, fez ou faria algo que “merecesse” o amor de Deus? Nem por isso, Deus deixa de amar a cada um e a cada uma, com gratuidade. “Vocês receberam de graça, deem também de graça!” (Mt 10, 8b), eis a ordem de Jesus aos discípulos, ao enviá-los em missão. Na carta de São Paulo aos Efésios (2,8-10), o apóstolo ressalta que a salvação vem pela graça e não pelo merecimento. Esta é uma grande lição para as famílias hoje: ajudar seus membros a viverem a gratuidade, o desejo e a realização de boas ações, não para esperar recompensa, mas porque “fomos criados para as boas obras” (Cf. Ef. 2, 10).

Pode-se pensar numa “pedagogia da graça” que coloca, no lugar do prêmio, a alegria de servir. Os gestos de gratidão acompanham o bem realizado, mas não tem preço! Reconhecer o bem que o outro faz não precisa, necessariamente, passar por um valor material: a amizade, o companheirismo, o querer bem são mais preciosos que qualquer objeto ou valor financeiro. Assim, vai-se preparando pessoas capazes de estabelecer novas relações, seja na família, na comunidade e na sociedade. Relações baseadas no respeito, na solidariedade, na ajuda mútua e fraterna e no desejo do bem, porque se reconhece e reconhece no outro e na outra filho e filha de Deus que é amor.

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13/8/2019

Antonio

Graça