“Feliz de quem atravessa a vida tendo mil razões para viver”.
(Dom Hélder Câmara)
O que você vai ser quando crescer? Eis uma pergunta que todo ser humano já ouviu ou ouvirá quando criança. Na verdade, as questões existenciais permanecem conosco a vida inteira e isso é positivo. Ou para algumas pessoas poderiam ser um problema sem solução? As indagações, as dúvidas servem de incentivo ou provocam desespero e angústia?
O que é o ser humano? Quais são os ideais que o movem? Nos últimos tempos ouve-se casos de adolescentes e jovens que escolheram interromper a própria vida. Alguns registram por cartas ou depoimentos gravados, os motivos do ato final. Seria um gesto de covardia ou coragem? Jamais saberemos a verdade. Vai-se a vida ficam hipóteses e suposições. Por quê? Mas se…? E agora?
O que torna a situação preocupante é tomar consciência de que eles estão próximos de nós. Eles são nossos conhecidos, amigos de nossos filhos, membro de nossa comunidade, morador do bairro, aluno de nossa escola. E então, ele é nosso. Sim, é responsabilidade de todos buscar maior conhecimento sobre o assunto e descobrir formas de ajudar. Os jovens estão gritando, pedindo socorro.
Há quem diga que faltou educação familiar ou religiosa; que são mimados, que tem tudo e não são gratos; sem personalidade…. Se olharmos apenas para tais respostas, iremos nos deparar com velhas desculpas, seguiremos indiferentes e alheios encontrando supostos culpados que poderiam ter permitido que isso acontecesse: os pais, os amigos da balada, a escola, repressiva em algum momento, permissiva em outros, ou ainda Deus. Mais que respostas prontas, precisamos mergulhar na realidade complexa juvenil que se apresenta atualmente, em busca de alternativas.
O ato em si, brutal e frio, nos ensina o contrário do que às vezes afirmamos. Quem tira a própria vida está gritando que quer viver. Viver como, se tirou o que havia de mais sagrado? Eles querem viver de forma diferente, o mundo como se apresenta não lhes é satisfatório. A modernidade se apresenta com muitas opções e possibilidades. E diante da infinita “lista de ofertas”, o ser humano, e especialmente o jovem se perdeu. No desejo desenfreado para tudo ter, encontrou o vazio. O tudo não trouxe nada. O vazio tornou-se seu fiel companheiro.
Pais e educadores, Deus nos confiou uma missão: cuidar e proteger, educar e formar. Dá tempo e ainda tem jeito sim! Nossos jovens, sedentos pela vida, perdem-se muitas vezes, trilham caminhos tortuosos, sofrem, se frustram, se angustiam. É o tempo da busca da própria identidade, da formação da personalidade. Ainda tão indefesos querem ver em nós, a força e a delicadeza, a coragem e a sensibilidade. Precisam de orientações firmes e limites claros, arraigados de atenção, afeto e muito amor. Sentem-se mais seguros se nossas mãos estão firmes com as eles, se nosso coração bate em sintonia.
Não precisamos oferecer tudo, eles desejam o básico. Não nos angustiemos em lhes dar, eles querem que sejamos. Certo dia um jovem disse: “Meu pai me ofereceu de aniversário mais uma viagem para Disney. Eu pedi para ir ao parque da cidade e fazer um piquenique.” O vazio existencial dos jovens precisa ser preenchido por um sentido pleno e sereno, forte e apaixonante pela vida.
Segue uma breve história. Um turista, viajando pela Índia, decide conhecer o líder espiritual mais famoso. Logo ao entrar na casa, percebe um lugar muito simples com uma pequena escrivaninha e um fino colchão no canto do único cômodo.
Após ser acolhido, comenta: Sua casa é muito simples, onde estão seus móveis?
O sábio: E os seus, onde estão?
O turista: Eu estou aqui de passagem.
E serenamente o sábio lhe diz: Eu também.
Para encontrar o verdadeiro sentido é necessário esvaziar-se de muitas coisas e abastecer-se do que é essencial.
Querido Rogério, doce é sentir em suas palavras as possibilidades que podemos propiciar aos nossos jovens, voltando-os para a essência das coisas, ressignificando o que pensam sobre o SER humano! Grande abraço, Mirlene.