A escola e o ser político | Paulus Editora

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Fé e Educação

14/03/2019

A escola e o ser político

Por Rogério Darabas

“A política não deveria ser a arte de dominar,  mas sim a arte de fazer justiça”. (Aristóteles)

A escola se pergunta constantemente pelo seu papel. As escolas da rede privada procuram ter muito claro e, até de forma explícita, impressa a sua missão, os seus valores. E continuamente refletem sua atuação, visualizando o futuro, elaborando projetos. Escola é o lugar de provocações diante da realidade que se apresenta e das possibilidades que podemos sonhar.

E hoje, quais são as provocações que surgem com o momento social-político? Para alguns pode causar estranheza a palavra Política dentro do ambiente escolar. Pode a escola trazer tais questões, não deveria apenas apresentar seus conteúdos, construir conhecimento? Há espaço para discutir política no ambiente acadêmico?

A escola tem se esforçado em acompanhar as mudanças que ocorrem na sociedade, seja nos avanços tecnológicos e aprimorando seus métodos didáticos. Mas ainda há muito o que fazer. Há um empenho para que os conteúdos façam sentido na vida dos alunos, pois muitas vezes, eles interrogam: “Por que que tenho que aprender isso? Onde vou usar”? A educação tem que fazer sentido.

Ao longo da sua história, a educação busca contextualizar e atualizar a sua missão. Os conteúdos fundamentais sempre estiveram e estarão presentes na matriz curricular. Mas se a escola prepara para a vida em sociedade, deve também ser espaço para que os alunos possam estudar, refletir e atuar politicamente. “Como assim? Mas a escola não pode ter partido, se envolver com política”, afirmarão alguns.

Eis então o significado da palavra “política”. Vem do grego “polis” e significa cidade. Para os gregos, a cidade como espaço organizado e ordenado, deveria ser cuidado pelos políticos. Cidade é o espaço público, onde as pessoas convivem, trabalham, estabelecem relações. Espaço e oportunidade da pessoa ser e estar.   Podemos afirmar que política é a  arte de governar para o bem comum.

Para algumas pessoas, a escola tem que ser neutra, imparcial, não se envolver nas questões sociais, econômicas, políticas, religiosas, ater-se apenas ao acadêmico.   As questões de atualidade podem sim fazer parte do currículo da escola. Ela não pode construir um muro em torno do seu projeto pedagógico, aliás, fala-se em projeto político pedagógico, o conhecimento que provoca, que transforma, que modifica.

Aprofundemos um pouco mais a reflexão e podemos citar aqui os quatro pilares da educação (aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser). No atual momento as instituições educacionais só terão sentido e razão de existir se contemplarem o conhecimento, a prática e a convivência para a formação do ser humano. A educação constrói conhecimento. O conhecimento possibilita um  novo olhar sobre a realidade. O novo olhar provoca, indaga, questiona, forma a consciência crítica. Ser crítico é ter autonomia no pensar e no agir, mas com responsabilidade.

E como tratar as questões de ordem política no ambiente educacional? A escola e os educadores devem proporcionar espaço para o aprofundamento,  reflexão e diálogo sobre o ser político. Muitas são as informações,  nem sempre reais e verdadeiras, disseminadas nas redes sociais. Por isso, é papel da família e da escola, auxiliar os jovens para que possam “ler”, interpretar e compreender a realidade, pelo menos em alguns dos seus aspectos. Certamente os alunos irão criticar e reprovar as ações da maioria dos governantes. Gritaram contra os corruptos, os ladrões, que a sociedade não tem jeito.

Feita a contextualização teórica é oportuna a provocação: “E vocês, estão satisfeitos com a convivência com os seus colegas? Há atitudes que são ofensivas, geram conflitos, excluem as pessoas? O ambiente escolar é agradável? Que ações poderão ser feitas para agir e sermos melhores”? Provavelmente nascerão excelentes ideias que resultarão em projetos de ação, pois os jovens desejam agir e transformar. Na verdade, as escolas em sua grande maioria, já trabalham tais questões. Há eleições para representantes ou líderes de turma, há grêmios estudantis e, a partir daí projetos com diversas atividades. Eles aprenderão na prática o que é Política, pois irão votar, escolher as melhores propostas, acompanhar e avaliar o processo,  os avanços, conquistas e sugerir melhorias. Há o desejo de atuar por parte dos estudantes, caberá a escola oferecer oportunidades.

Importantíssimo o papel do educador como mediador do processo: apresentar informações, incentivar a leitura, a pesquisa, provocar a participação, proporcionar o espaço de diálogo, possibilitar o envolvimento, garantir o respeito e a tolerância diante da diversidade que somos e que nos enriquece. Enfim, criar um ambiente democrático.

Que todos nós possamos entender a real diferença entre política e politicagem. A primeira visa atender o comunitário, olhar para todos. A segunda volta-se para os interesses pessoais ou de determinados grupos. Fundamentada no egoísmo e na ganância gerando miséria, pobreza, fome e morte. Cada decisão e ação terão suas consequências.  “Não existe imparcialidade. Todos são orientados por uma base ideológica. A questão é: sua base ideológica é inclusiva ou excludente?” (Paulo Freire)

E ainda, numa escola confessional,  respeitando a diversidade religiosa, o Evangelho de Jesus Cristo é sem dúvida,  o fundamento primordial para qualquer projeto educacional e sustentação da missão institucional. O mestre Jesus nos deixou inúmeros ensinamentos e testemunhou de maneira singela e profunda o sentido do seu Reino. Diante das injustiças, explorações e todas as formas de pecado social da época, Ele proclamou: “O meu reino não é deste mundo” (cf. Jo 18,36). Eis aqui o convite para todos os cristãos batizados: lutar para construir uma sociedade que se assemelhe com o Reino de Deus: “Eu vim para que todos tenham vida, e a tenham em abundância” (João 10,10).

3 comentários

17/3/2019

Mirlene M. Melo Canestraro

Querido Rogério, numa semana tão visceral para a educação, sua proposta de explicitar a importância da escola para a formação do ser político é um deleite para todos nós, que acreditamos na formação integral do indivíduo para o bem comum, muito obrigada!

17/3/2019

ROGÉRIO DARABAS

Muito obrigado Mirlene Moreira Melo pelo apoio e incentivo. Você como Educadora sabe muito bem que nossa missão é contribuir na formação política e.cricita dos Educandos. Grande abraço .

26/3/2019

Adriana Benson

Olá Rogério, estou encantada com o que você escreveu! Eu sou de uma época em que a escola só nos impunha as matérias e, muitas vezes, eu pensei: Para que aprender isso? Onde eu vou usar? Esse é o caminho mesmo, ensinar os jovens a pensar. Parabéns!