A família virou tema para defender ou acusar propostas de diversos grupos sociais. Porém, nem tudo que destrói a família é proclamado com ênfase por pessoas e instituições. Outros fatores, no entanto, são ecoados e suscitam ações de intervenção em espaços públicos. O que ocorre?
Hitler, no livro “Propaganda de guerra”, mostra como usar medos e desejos presentes na sociedade para moldar um discurso que convença a maioria a apoiar determinadas ações que, sem isso, não teriam força. Apropriou-se da insatisfação do povo alemão contra os judeus, porque, após a primeira guerra, os judeus se fortaleceram economicamente e o resto do povo estava na miséria. Hitler teve grande apoio popular para fazer o que fez.
Esta tática ainda é muito usada e favorece determinados grupos econômicos e culturais que, nem sempre, revelam a verdade de suas intenções. Criam discursos entusiasmados e levam outros tantos a acreditarem no que dizem, baseando seus argumentos em falsas premissas. É a pós-verdade.
E por que a família? Porque somos uma sociedade que ainda se permite sonhar com este valor. Ainda acredita que a família é “a base de tudo”, que as pessoas se fortalecem sabendo que podem contar com outras que as amam. Ainda cremos que a família “representa o porto seguro dos sentimentos mais profundos e gratificantes” (Sínodo dos Bispos sobre a Família).
No entanto, não se fala, com a mesma veemência, dos perigos que, verdadeiramente, a família é exposta. O Sínodo dos Bispos salienta alguns: a multiplicação dos conflitos, o empobrecimento dos recursos, os processos migratórios, violentas perseguições religiosas, políticas econômicas e sociais iníquas, a dependência do álcool, das drogas ou do jogo de azar, a acumulação da riqueza nas mãos de poucos e o desvio de recursos que aumentam o empobrecimento das famílias, uma cultura individualista e hedonista.
Infelizmente, as famílias cristãs, movidas pelo desejo de defender esta instituição, não se colocam com a mesma força e energia diante desses perigos. É comum que os discursos das causas “morais” sejam mais escutados e tenham mais seguidores do que os das causas sociais, econômicas, culturais e políticas. Por isso, os bispos do Sínodo para as Famílias convocam as famílias cristãs a se reunirem e encontrarem as “modalidades para interagir com as instituições políticas, econômicas e culturais, com a finalidade de edificar uma sociedade mais justa”.