Neste Mês da Bíblia, a Igreja do Brasil convidou a aprofundar o livro da Sabedoria, que traz a justiça como tema central, intimamente ligado à sabedoria. Há um apelo a reconhecer o dom de Deus e deixar-se conduzir por ele em seus caminhos. Eles passam, na catequese, pelo dinamismo do cuidado.
A palavra cuidado, em sua origem, está conectada a pensar (do latim cogitare) e a agir[1], intimamente ligados. É deixar-se mover na interioridade. Quando essa moção vem do Espírito Santo, aí está a sabedoria da ação. Por isso, a catequese que deseja nutrir a experiência de Deus, introduzindo a criança e o adolescente no mistério divino – a mistagogia –, através do encontro com Jesus Cristo, é promotora dessa sabedoria. Foge do despejar de conteúdos; ajuda a receber e ao mesmo tempo construir juntos o saber com sabor, que une fé e vida.
Não se trata de um ativismo, da busca frenética do fazer que às vezes toma muitos agentes de pastoral. Essa “fazeção” nos coloca demasiadamente para fora, acabando por nos desumanizar. Para escapar disso, a primeira dimensão do cuidado carregado de beleza e harmonia é cuidar do interior. Que a catequese contemple exercícios de silêncio, pausas, respiração para ensinar a entrar na casa da interioridade, reconhecer os sentimentos e partilhá-los.
É claro que há um processo para chegar aí, passo a passo, ajudado pela ambientação, música suave, e desaceleração gradual. A idade das crianças e adolescentes também interfere, pois há fases introspectivas e contemplativas e outras mais extrovertidas e ativas. No entanto, todos são capazes deste revigorante exercício, cada um do seu modo.
A segunda dimensão é cuidar das relações. Um cuidado que exige discernimento, pois difere muito a atitude de ir em direção ao outro no primeiro impulso, de forma reativa, ou a partir da profundidade e do reconhecimento dos sentimentos. A catequese é espaço de convivência e socialização, escola do amor fraterno ensinado por Jesus. Como promover cada vez mais o olhar empático e compassivo ao irmão e à irmã na cultura da indiferença e da intolerância?
Diante desse desafio, a experiência de ser cuidado abre um caminho transformador. Descobrir-se filho e filha queridos por Deus no encontro com o Filho Jesus Cristo e tocar seu amor e misericórdia faz olhar a si, ao próximo e à realidade a partir do coração do Bom Pastor. Coloca, por isso, o cuidado do interior e das relações em outro patamar, criando um círculo virtuoso de cuidado, eliminando o círculo vicioso do desamor.
O que fazer, catequista, diante de tão grandiosa missão? No capítulo 9 do livro da Sabedoria, o rei Salomão, tendo em mãos a incumbência que o ultrapassava e reconhecendo que “só havia de obter a Sabedoria por dom de Deus” (Sb 8,21), faz uma belíssima oração pedindo esse dom. Que tal seguir sua inspiração?
[1] Perissé, Gabriel. In: http://palavraseorigens.blogspot.com/2011/02/quem-cuida-vive-pensando.html