Mais que uma carta, Hebreus é uma homilia bem elaborada. É um estilo doutrinal que interpela os ouvintes e leitores. Ao longo do texto, não aparece o nome “hebreus”, mas foi atribuído mais tarde, supondo que “hebreus” seriam judeus convertidos ao cristianismo. Procura responder aos problemas concretos das comunidades destinatárias. Provavelmente comunidades formadas por cristãos vindos do judaísmo ou de pagãos que se converteram ao cristianismo. São comunidades que passaram por provações e sofrimentos por causa da fé e se deixaram levar pelo desânimo. A carta revela os perigos que os destinatários estão passando e o mérito das boas obras que praticam.
Desde os primeiros séculos, esta carta já foi atribuída a Paulo, mas hoje em dia não se sustenta mais essa teoria. Faltam as indicações de autor e a saudação inicial comum a todas as cartas de Paulo. A linguagem e o estilo são de uma pureza elegante e bem elaborados, diferentes das cartas de Paulo. O grego é melhor e mais clássico do que o do Apóstolo. O tema central de Hebreus – Jesus sumo sacerdote – não aparece nos escritos de Paulo.
Ela teria sido escrita no final do primeiro século. A carta cita a Itália (13,24), por isso alguns propõem que teria sido escrita na Itália ou dirigida às comunidades da Itália. Desconhece-se seu autor, alguns propõem Apolo ou Timóteo/Barnabé, companheiros de Paulo. Outros pensam que o autor seja um homem de cultura judaico-alexandrino, um desconhecido. O autor não informa seu nome. Orígines diz que só Deus conhece o autor. Conforme o texto, o autor faz parte da segunda geração depois de Cristo (2,3). Podemos esquematizar a carta da seguinte forma:
1. Introdução (Hb 1,1-4): Deus falou no passado e falou definitivamente em Jesus, o qual é a palavra viva e concreta de Deus. Jesus (o Logos) participou com Deus na obra da criação do mundo. Jesus é quem faz existir e salvar toda criatura.
2. Jesus rebaixado e elevado (Hb 1,5-2,18): Não há comparação entre Cristo e os anjos, ele é superior. Os anjos são mensageiros que obedecem às ordens de Deus. Como filho primogênito, Jesus revela sua superioridade em ralação às criaturas. Não há mais necessidade de outros mediadores: Jesus está unido a Deus e, ao mesmo tempo, próximo e solidário com as pessoas.
3. Jesus: sacerdote fiel e misericordioso (Hb 3,1-5,10): A aliança no deserto é uma referência para os judeus. Isso era provisório e ficou superado em vista da obra realizada por Jesus. Considerado maior que Moisés, Jesus é o sumo sacerdote fiel a Deus. Ouvir e acolher a palavra, que é profunda, eficaz e sempre atual, significa assumir o compromisso de viver de acordo com essa palavra.
4. Valor do sacerdócio de Cristo (Hb 5,11-10,39): Esta é a parte central da carta. O autor parte do passado e da consideração sobre todas as situações religiosas anteriores, destacando-se delas para fixar-se no seu cumprimento, junto a Deus em Cristo e com Cristo. Acumulam-se provas para salientar que esse novo sacerdócio supera e preenche todas as instituições antigas.
5. Fé e perseverança em Cristo (Hb 11,1-12,13): A morte e a ressurreição de Cristo são os valores definitivos e absolutos. A fé em Cristo é passo decisivo na vida das pessoas. O fiel deve estar empenhado num caminho que vai até o pleno encontro com Deus. Em meio a tentações e provas, a perseverança cristã não é apenas fidelidade ao passado, mas, antese de tudo, impulso corajoso em direção a Deus.
6. Atitudes da vida cristã (Hb 12,14-13,19): Diferente da antiga, a nova aliança é uma realidade de paz e confiança: chegou a presença de Deus na pessoa do Ressuscitado. O amor fraterno se expressa em comportamento de atitudes concretas. A tarefa dos cristãos é redescobrir a prática de Jesus, fora dele nada é absoluto e definitivo.
7. Conclusão (13,20-25): Apelo para que a pessoa se abra para a ação de Deus. Há um convite para saudar os responsáveis da comunidade e a todos os fiéis.