42. Livro de Abdias | Paulus Editora

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10/08/2022

42. Livro de Abdias

Por Nilo Luza

Abdias é o menor livro profético e de todo o Antigo Testamento, são apenas 21 versículos. Ao se referir a Abdias, são Jerônimo dizia que quanto mais breve, mais difícil. Quase nada sabemos a respeito desse profeta. O nome Abdias significa “servo do Senhor”.  Trata-se de um nome próprio, mas também de um título muito comum para indicar a essência da missão profética, que é uma obediência a um serviço divino, que viveu para o benefício dos irmãos. Tudo indica que atuou logo após a tomada de Jerusalém (587 a.C.) pelo rei da Babilônia, Nabucodonosor. O profeta teria presenciado a destruição e permanecido na Judeia após a deportação para a Babilônia. Antes dessa tragédia, é provável que Abdias tenha atuado como “escriba ou profeta do culto”. Seu escrito pode ter sido usado nas liturgias do templo como “maldição contra os inimigos de Israel”.

Para entender um pouco melhor a mensagem do livro de Abdias, faz-se necessário recordar um pouco a história entre Judá e Edom, que fica no sul de Israel. Os edomitas são conhecidos como descendentes de Esaú (Gn 36,9) e Judá seria da descendência de Jacó. Os dois filhos gêmeos de Isaac, Esaú e Jacó, parece que sempre tiveram certos conflitos entre si. Só para lembrar alguns fatos. Ao nascer, Jacó segura o calcanhar de Esaú (Gn 25,26). Jacó consegue comprar, por um prato de lentilha, a primogenitura que pertencia a Esaú (Gn 25,29-43). Além disso, Jacó, com a ajuda da mãe, conseguiu a bênção do pai Isaac que também pertencia a Esaú (Gn 27,5-10).

Os dois povos, Judá e Edom, também tiveram vários momentos de conflitos. Edom provavelmente se uniu à Babilônia na invasão de Judá e na destruição de Jerusalém. Além disso, os edomitas ocuparam o sul de Judá (Ez 36,5). Por outro lado, o profeta reconhece que Judá também não é inocente. Os reis de Judá também oprimiram os edomitas. Saul guerreou contra Edom (1Sm 14,47). Davi fez de Edom parte do seu império e os edomitas se tornaram súditos de Davi (2Sm 8,14). Amasias vence Edom no Vale do Sal (2Rs 14,7). São dois povos irmãos que deveriam ter certa solidariedade entre si. Apesar de ser um livro tão pequeno, é possível dividi-lo em duas partes.

Primeira (1-14): oráculo contra Edom. Por causa do seu comportamento por ocasião da tomada e destruição da cidade de Jerusalém por Nabucodonosor, rei da Babilônia (587 a.C.). O oráculo de Abdias contra Edom se assemelha, em alguns pontos, com aquele de Jeremias (Jr 49).

A coalisão dos povos humilhou Edom, repreendido pelo seu orgulho e por se sentir seguro no seu território montanhoso. Se os ladrões ou assaltantes sempre deixam algo para trás, o castigo divino, porém, será devastador total de Edom.

Esquecendo os laços de sangue (Edom=Esaú irmão de Jacó=Judá), Edom traiu seu irmão Judá no dia em que a Babilônia invadiu e destruiu Jerusalém (587 a.C.). Os edomitas se aproveitaram da situação. O agravamento disso é que Edom lesou a fraternidade com Israel. A destruição de Edom é o pressagio do juízo de Javé sobre todos os inimigos do povo de Deus e da restauração final de Jerusalém.

Segunda (15-21): o Dia de Javé. A ira de Javé agora abrange todas as nações. O “dia de Javé” será o dia da condenação de Edom, segundo a lei do talião (olho por olho). Esse dia será de julgamento e castigo contra todos os inimigos de Israel. Por outro lado, nesse dia, Judá se tornará lugar de salvação. Será um dia de castigo para os inimigos de Israel e dia de salvação para o povo do Senhor (casa de Jacó e casa de José).

O livro de Abdias revela a intolerância, a arrogância e o ressentimento de vingança dos edomitas. Edom se comportou como inimigo daquele que é considerado seu irmão. O profeta Ezequiel diz que Edom cultivou um ódio eterno (Ez 35,5). Atitudes muito atuais também em nossa sociedade do século 21. Uma sociedade que alimenta o ódio e a violência. Mas uma mensagem importante do profeta é que ele considera a solidariedade entre os fracos como um dos pilares das relações entre os povos. Abdias se posiciona contra a desunião dos pequenos.

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