36. Livro de Baruc | Paulus Editora

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Bíblia

17/02/2022

36. Livro de Baruc

Por Nilo Luza

Baruc (significa abençoado) não é propriamente profeta, mas está incluído nos Livros Proféticos. O livro é atribuído a Baruc, escrivão-secretário de Jeremias, mas não é dele. É um livro pseudônimo, isto é, o autor atribui a obra a alguma personagem ilustre, para valorizá-la. Baruc é visto como modelo de escriba fiel, por isso a obra foi atribuída a ele. O livro é deuterocanônico, ou seja, aprovado num segundo momento e não faz parte da Bíblia Hebraica.

O livro, fruto de diversas épocas, foi escrito num ambiente de crise em que vivia o leitor. A redação final foi feita durante o domínio grego, talvez no 2º ou 1º século a.C. O autor descreve o livro remetendo-o à época do exílio, quando Nabucodonosor, rei da Babilônia, invade e toma Jerusalém. Usa esse recurso para descrever a realidade em que o autor e o povo estão vivendo: realidade de opressão, perseguição e conflitos sociais.

O livro provém de grupos que vivem a experiência do exílio no meio das comunidades judaicas e juntas fazem uma releitura dos acontecimentos da invasão da Babilônia. Além de nos introduzir nas comunidades dispersas, revela-nos a vida religiosa que era mantida pelo relacionamento com a comunidade de Jerusalém.

O autor quer mostrar que a invasão da Babilônia não é castigo de Javé, mas é causa da infidelidade do povo. Mesmo com a consciência dos pecados, o povo mantém viva a esperança em Deus, que não o abandona e continua fiel às suas promessas.

O livro conserva o sentimento religioso do povo de Israel disperso pelo mundo após a invasão dos babilônios e a perda de seus símbolos fundamentais: o templo, a lei, a terra. O autor se preocupa com a situação do povo vivendo sob a dominação babilônica e procura animá-lo a esperar o momento da libertação.

Podemos dividir o livro em quatro pequenas partes a primeira e a quarta em prosa e a segunda e a terceira em poesia:

1) Confissão e oração (1,1-3,8): Após breves informações históricas, lembra que a comunidade da Babilônia fez uma coleta para auxiliar a comunidade de Jerusalém. O povo disperso relembra a tragédia da queda de Jerusalém e do sofrimento causado por esse acontecimento. O arrependimento e a obediência renovada são condições para a volta e a restauração da cidade e da comunidade judaica. A seguir, temos uma oração fundamentada na certeza da misericórdia e do perdão de Deus. A súplica inicia lembrando o êxodo. O autor pede a Deus para que aja novamente da mesma forma.

2) Exortação sapiencial (3,9-4,4): Acolher a sabedoria de Israel significa compreender a causa do exílio: abandono de Deus e de seus mandamentos. Seguir os mandamentos e aprender a prudência são fundamentais para conseguir vida longa. A verdadeira sabedoria é dom de Deus. Ela não se encontrada no comer, na riqueza, no comércio, no poder das armas nem no meio dos pagãos. Deus conhece e indica o caminho da sabedoria: a prática dos mandamentos para viver a justiça. A sabedoria é dom de Deus que exige acolhimento. Seguindo o caminho da lei, Israel viverá e será abençoado.

3) Restauração e esperança (4,5-5,9): É um texto que fala da restauração de Jerusalém. Traz um discurso de encorajamento do estilo dos oráculos proféticos de “consolação”, pois um dia o exílio terminará e o próprio Deus trará o povo de volta. Jerusalém é vista como a mãe das nações que revela aos povos vizinhos o motivo do exílio e encoraja os exilados a guardar o retorno em breve. Jerusalém convida os filhos a aclamar a Deus e ele os livrará da opressão, então será momento de festa e alegria. Jerusalém é convidada a ter coragem e despir o traje de luto e vestir o esplendor da glória de Deus e o manto da justiça.

4) Carta de Jeremias (6,1-72): Por fim, o autor apresenta a carta dirigida aos que foram deportados para o exílio, para alertá-los da tentação da idolatria do culto babilônico. Ele questiona os ídolos, que são atraentes e grandiosos, mas frágeis e inertes, não têm vida nem produzem vida. A carta traz um discurso que ataca o culto idólatra e exorta os escribas a não se iludir por ele.

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