35. Livro das Lamentações | Paulus Editora

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21/01/2022

35. Livro das Lamentações

Por Nilo Luza

Lamentações não é um livro profético, mas está inserido no bloco dos profetas, logo após Jeremias, que era considerado seu autor. Lamentações retrata a catástrofe que se abateu sobre Jerusalém, quando Nabucodonosor, rei da Babilônia, invadiu a cidade, destruiu o templo e deportou parte da população para a Babilônia, em 587 a.C. Lamentações é um livro que revela a crueldade provocada pelos babilônios contra os judaítas. Talvez seguindo o modelo do Pentateuco e do Saltério, o livro é formado apenas por cinco capítulos, um dos menores da Bíblia, e reúne cinco “lamentos”, um em cada capítulo.

Na Bíblia Hebraica, o livro faz parte dos “Cincos Rolos” (meguilot), que eram lidos nas grandes festas judaicas. Lamentações era lido por ocasião do aniversário de destruição do templo e da cidade de Jerusalém. O latim traduziu o livro em Lamentationes, de onde veio a tradução para o português.

Os autores do livro provavelmente sejam pessoas que trabalhavam no templo antes da destruição, tais como os levitas e cantores, que não foram levados para o exílio. O local mais provável da composição é Jerusalém. A data é, com certeza, após a deportação para a Babilônia em 587 a.C.

O conteúdo do livro são cantos fúnebres, bem como lamentações, que se referem à destruição de Jerusalém e do santuário sobre o monte Sião. Trazem consequências trágicas na vida do povo, como a fome, a sede, os assassinatos, saques. São lamentações que mostram a crueldade que se abateu sobre o povo.

Diante dessa tragédia, o povo faz um exame de consciência, reconhece sua culpa, arrepende-se e pede perdão a Deus. Perdem os símbolos básicos do judaísmo, mas não perdem a fé em Deus, senhor da vida, e confiam nele que pode realizar um novo êxodo. São poemas que tratam o tema do sofrimento humano.  O capítulo 3 pode ser considerado o centro do livro. Mesmo sendo poemas fúnebres, revelam grande confiança em Deus e arrependimento pela infidelidade.

Os quatro primeiros capítulos são lamentos alfabéticos, ou seja, cada estrofe inicia com uma letra do alfabeto hebraico. Os dois primeiros e o quarto iniciam em cada verso com uma letra do alfabeto hebraico. O terceiro contém três versos cada letra do alfabeto. Isso só é possível perceber a partir do texto hebraico. O quinto capítulo não é alfabético, mas contém 22 versos, número igual às consoantes do alfabeto hebraico. A construção e a organização demonstram certa cultura dos autores.

O livro pode ser dividido em cinco partes, conforme o número de capítulos. Primeira lamentação: Desolação de Jerusalém (1): Usando a metáfora da viúva, alguém descreve sobre a antiga glória e a atual desgraça de Jerusalém. A viúva chora, traída pelos aliados e não tem mais paz. Uma cidade próspera virou um montão de ruínas. Segunda lamentação: A ira de Javé contra Sião (2): O dia da destruição de Jerusalém foi o dia da ira de Javé, que foi implacável ao castigar a cidade. Foi a infidelidade do povo que desencadeou a ira de Javé. Terceira lamentação: Esperança em meio à dor (3): Solidão que o autor focaliza em si mesmo em sua dor, espécie de meditação pessoal. A dor do “eu” é semelhante a dor de um inocente perseguido injustamente. No meio dessa realidade, ainda há esperança na certeza de que Deus é fiel. Quarta lamentação: Jerusalém humilhada (4): A aflição da cidade é uma espécie de repetição do capítulo 2. A glória passada de Jerusalém é comparada com a desgraça presente. No passado havia felicidade, mas a situação presente retrata uma cidade sombria e um país humilhado e devastado. A invasão inimiga foi vista como causa dos pecados e dos crimes dos profetas e sacerdotes, que não cumpriram sua vocação. Quinta lamentação: A confiança em Javé (5): É uma espécie de oração confiante do povo a Javé. Uma pessoa eleva uma súplica a Deus. Não é um lamento contra os inimigos, mas apenas revela uma situação de necessidade. A terra, grande dom de Deus, está nas mãos dos estrangeiros e o povo vive como escravo desses invasores.

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