Tecnologias de comunicação não abolem divisões e fragmentações | Paulus Editora

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Comunicação

30/11/2015

Tecnologias de comunicação não abolem divisões e fragmentações

Por Jakson F. de Alencar

O pensador canadense Marshall McLuhan, em sua concepção do mundo como “aldeia global”, na perspectiva do “envolvimento de todos com todos”, previa o fim de milhares de anos de fragmentação dos seres humanos, numa era de comunicação em que “todos os indivíduos, seus desejos e satisfações, estão copresentes” (Global Village, p. 94).

Os circuitos elétricos teriam reconstituído o diálogo em uma escala global, acabando com o paroquialismo psíquico, social, econômico, político, com os velhos agrupamentos cívicos, estatais e nacionais que estariam se tornando “impraticáveis”, segundo ele. Os muros todos cairiam.

Mas as variantes da humanidade, de sua história e cultura fugiram da previsão quanto a tudo isso. Como é explorado por diversos autores, as fragmentações não só continuam, como também aumentam, e os individualismos aumentaram exponencialmente . Embora tenha havido um aumento na consciência de planeta e de cultura cosmopolita e uma tendência de abertura e superação das divisões nacionais, os agrupamentos cívicos e nacionais e os separatismos continuam existindo, em diversos pontos do mundo, tendendo a reforçar-se, como reação às tendências de abertura.

Mesmo em países consolidados há muito tempo, ganharam forças movimentos separatistas, como é o caso da Catalúnia e do País Basco, na Espanha, e da Escócia, por exemplo.

Em geral, os países que mais propalaram o discurso do fim das fronteiras e nacionalidades são os que mais defendem as próprias. Caiu o muro de Berlim, mas levantaram-se outros de grande significado, como o já citado entre os EUA e a América Latina; entre Índia e Bangladesh; Israel e Palestina; barreiras para dificultar a entrada de imigrantes Europa; muros ou outras formas de barreiras e de separação entre classes sociais no interior mesmo dos países e cidades.

As cidades são divididas em constelações de guetos e compartimentos ordenados para manter-se entre “os nossos”, evitar forasteiros, para ocultar-se, de forma que as pessoas não vejam os outros e não sejam vistas; guetos miseráveis ou de luxo; entrincheiramento em condomínios fechados e monitorado por sistemas deslocalizados de vigilância, reciprocamente segregados que, quando se conectam a circuitos nacionais de integração política, econômica e cultural, fazem-no de maneira isolada, cada um por si; fragmentação do uso do solo e das interações.

O pensador David Harvey defende que não existem apenas os excessos e a competição dos interesses, das ambições, dos poderes, das explorações, que de resto favorecem o estado atual do mundo; não apenas as fúrias fanáticas que exacerbam os entrechoques culturais. Há também o fato de que tanto os individualismos ocidentais quanto os comunitarismos por toda parte se amplificam conjuntamente em todo o planeta e favorecem o mal primordial da incompreensão humana. O individualismo ocidental favorece mais o egocentrismo, o interesse pessoal e a autojustificação, do que a compreensão do outro. O humanismo das sociedades ocidentais favorece a compreensão, mas é inibido assim que surgem antagonismos com outras sociedades.

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