O prazer da pertença | Paulus Editora

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Catequese

03/12/2013

O prazer da pertença

Por Solange Maria

Terminando esta série sobre os jovens, façamos nossa reflexão ainda a partir dos Atos dos Apóstolos. Lucas é um grande pastoralista. Ele sabe armar esquemas inteligentes para atrair o leitor para a fé que ele testemunha. Em At 2,42-47, encontramos o relato da vida das primeiras comunidades, descrito depois de mostrar a reação favorável que o testemunho dos apóstolos desencadeou nos ouvintes (cf. At 2,41).

Os crentes, segundo o ideal lucano, se organizam espontaneamente em torno dos apóstolos e não por coerção ou laços contratuais. O ensinamento deles é precioso e todos perseveram para ouvi-lo. O testemunho da comunhão fraterna lhes atrai; a alegria de partilhar o pão da eucaristia e da palavra não pode ser dispensada; a oração comum fortalece os ânimos e revigora para a luta. Cheios de temor – ou seja, de um desejo enorme de não perder a fé conquistada ou a fé no Deus que os conquistou –, os novos seguidores do Caminho presenciam a ação de Deus no meio deles, dita por Lucas como prodígios e sinais. Lucas insiste em dizer que o Deus da história, que agiu no Antigo Testamento por meio de muitos líderes e profetas e no Evangelho por meio de Jesus de Nazaré, continua agindo em Atos por meio da Igreja. E todos vivem uma experiência edificante: tendo abraçado a fé, se encontram unidos, repartem seus bens, frequentam diariamente a comunidade, rezam juntos, vivem com alegria e simplicidade de oração. Como conseqüência desse testemunho, cada dia aumentava mais o número dos que aderiam à fé.

Lamenta-se muito, hoje em dia, que os cristãos tenham perdido o sentido de pertença. A comunidade eclesial, antes referência máxima da fé cristã, foi relegada a segundo plano para realçar a experiência pessoal. Não falta quem critique a juventude de crer sem pertencer, de aderir a Jesus, mas rejeitar a sua família, a Igreja. Não é bem verdade que os jovens querem crer, mas não querem pertencer. Eles só não querem pertencer a uma comunidade fria e de laços contratuais, com a qual não têm vínculos afetivos e nenhuma identificação. Não é que na Igreja a gente escolha com quem faz laços; os laços são éticos, ou seja, são dados pelo Pai do Céu pelo simples fato de sermos irmãos em Jesus Cristo. Mas vamos admitir: não adianta saber que somos irmãos de alguém se não cultivamos laços afetivos com ele. Pertença não é obrigação; é conseqüência natural de laços fortes de fraternidade e comunhão. Parece urgente que recuperemos na Igreja a alegria da pertença ou nossos jovens vão continuar formando comunidades alternativas de convivência, no desejo de partilhar a fé e proporcionar seu crescimento.

2 comentários

20/12/2013

Lucineia

Esse texto retrata bem a realidade de minha comunidade, que fica na zona rural. Há famílias que moram próximas da igreja e que dela não participam. Eu pensava que lhes faltasse a experiência de Deus, aquele primeiro amor. Agora acho que lhes falta também a alegria da pertença. Ótimo texto!

26/2/2017

Francisco bieniacheski

Excelente texto.. Mas eu preciso de ajuda... fazer para que um grupo tenha o sentimento de pertencimento uma Pastoral? Com fazer com que seus membros trabalhem bem por esta Pastoral mais ou menos na linha dos Três Mosqueteiros: "um por todos e todos por um"? Temos aspectos religiosos e a gente vê muitas vezes e nas pastorais que o pessoal vai por uma rotina por um ativismo por um costume mas não chega no nível de participar pelo amor. Como despertar isso nas pessoas? Que dinâmica usar para isso ??? Quem pode me ajudar preciso de uma dica!