Des-escolarização da catequese | Paulus Editora

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Catequese

06/06/2016

Des-escolarização da catequese

Por Solange Maria

Muito se tem dito por aí sobre a des-escolarização da catequese. Nossa catequese adquiriu ritmo escolar, se tornou aula, fazendo do catequista um professor e do catequizando um aluno. Com isso, a fé cristã que a catequese transmite virou um conjunto de dogmas, doutrinas, orações e preceitos morais a serem ensinados na catequese. Mas, como disse o papa Bento XVI na sua Carta Deus Caritas est,

“não se começa a ser cristão por uma decisão ética ou uma grande ideia, mas através do encontro com um acontecimento, com uma pessoa, que dá um novo horizonte à vida e, com isso, uma orientação decisiva” (DCE, 12).

Uma boa aula de religião não garante a adesão a Jesus Cristo. Essa adesão só se alcança a partir de um encontro pessoal com ele.

No processo de des-escolariazção da catequese, tem papel importante a des-escolarização da formação dos catequistas. Quando a catequese era entendida como aula e os catequistas como professores de religião, era normal investir todas as forças em uma formação intelectual para os catequistas. A formação seguia o esquema curso. Curso de bíblia, de doutrina, de moral, de história da Igreja, de liturgia etc. Tentava-se suprir uma lacuna deixada na formação do catequista no que diz respeito à sua compreensão e assimilação de conteúdos teológicos – ou no mínimo religiosos!

Agora que já percebemos que o esquema curso de catequese não deu os resultados esperados em nosso tempo e que um déficit de iniciação perdura ao longo dos anos tanto no que diz respeito aos catequizandos quanto aos pais e aos catequistas, é hora de mudar também o foco da formação dos catequistas. A pergunta que deve nortear os encontros de formação não é mais “O que os catequistas precisam saber para serem bons catequistas?”, mas sim “O que essa gente precisa experimentar, que tipo de experiência lhes falta, para que comuniquem com entusiasmo o Deus de Jesus Cristo?”. Não só os encontros catequéticos devem ser des-escolarizados, mas também os encontros formativos dos catequistas.

Assim, os momentos formativos devem ser ocasião para rezar, cantar, partilhar, celebrar, escutar e aprofundar a Palavra de Deus. Aquele velho esquema de curso ou escola catequética, com um professor falando e os catequistas copiando e fazendo trabalhos para entregar no próximo encontro, já não cola mais. Os catequistas – que deverão rezar com os catequizandos – precisam de ocasião para cultivar a intimidade com Deus.

Precisam de silêncio, meditação, símbolos, caminhos orantes que os ajudem a sair da simples recitação das orações dos cristãos, aquelas decoradas e prontas na ponta da língua, mas quase sempre longe do coração. Os catequistas – que deverão celebrar e cantar com os catequizandos – precisam de espaço para celebrar a vida e cantar alegremente, experimentando eles mesmos a força do símbolo, o poder da linguagem simbólica. Os catequistas – que deverão brincar com os catequizandos – precisam eles mesmos de desenvoltura e leveza para cultivar o belo e o lúdico, arrancando da religião cristã aquele ar pesado e sisudo que lhe foi imposto ao longo dos anos.

Certamente, cantar, brincar, rezar e celebrar não dispersa o ato de estudar e investigar, buscando as razões da fé. Mas que as razões da fé sejam buscadas de modo mistagógico, depois de ter experimentado a maravilha de estar na presença do Deus vivo! E, para isso, brincar, cantar, celebrar, rezar, ouvir a Palavra são atitudes fundamentais!

 

 

 

 

8 comentários

15/6/2016

Fabiana de Oliveira Rosa

Perfeito! Uma real experiência com Cristo!!

15/6/2016

Helen Cardoso.

É isso que espero como catequista sinto uma lacuna grande no que se refere a intimidade com Jesus Cristo,estou iniciando esse encontro pessoal e é maravilhoso,estou aprendendo a rezar,celebrar,ouvir a palavra com o coração aberto,é um processo lento mais apaixonante e desafiador.Tenho firmeza na minha fé e seguirei até o fim com minha missão.

15/6/2016

Maria Adelaide

Concordo, catequese não deve ser aula, no cantar no brincar pode e deve haver a alegria de celebrar, rezar, e ir ao encontro do Senhor dando a conhece-lo e dando-nos a conhecermos Jesus Ressuscitado

16/6/2016

Nelça

Isso mesmo. Parabéns! o Caminho é por aí.

17/6/2016

Valéria mendes Seixas

Solange sou uma admiradora dos seus artigos. Concordo que precisamos de vivência, mas atualmente moro no interior (sou de BH) e me deparo com uma realidade bem diferente. primeiro a disponibilidade de tempo, por incrível que pareça. Depois a falta de educação que chegam os catequizandos ( jovens, crianças e adultos) e a falta recursos muitas vezes às catequistas em como lidar com isso, visto que as famílias estão ausentes. Eu entendo todas as questões que estão sendo colocadas atualmente, des-escolarização, novas vivências, propiciar encontros, mas confesso, estou me sentindo impotente, sem rumo, sem saber ao certo qual caminho tomar, pois a prática, a realidade está longe desse discurso. As catequistas querem fazer um encontro espiritualizado, lúdico... já reduzi as turmas para 10, após muita luta, pois a quantidade fala mais alto que a qualidade para as paróquias. Mas mesmo assim, 10 crianças ou jovens, sem educação de casa, que não respeitam ninguém, nem os próprios pais, que não sabem ouvir, não sabem interagir, não sabem se aquietar. É muito difícil nessa hora. Como promover um encontro com Jesus, se muitas vezes não se consegue nem propor alguma atividade? Procuramos diversas formas de chegar até eles, mas o sucesso foi pequeno. sou psicóloga, confesso que até eu estou ficando sem recursos diante da realidade que se apresenta hoje. Estamos realmente carente de uma discussão da catequese, porque do jeito que está indo, o que estou vendo são catequistas desistindo da missão. Paz e bem!

17/6/2016

Mirlene Moreira Melo Canestraro

A catequese deve ser um momento de experienciar o sagrado! Saborear os ensinamentos de Jesus Cristo e vivenciá-los , significando-os!

17/6/2016

Zelia Camatti

Compartilho das mesmas idéias! Muito bom mesmo! Deus abençoe o trabalho dos/as catequistas, agentes a serviço da evangelização na Igreja, iniciando e levando seus/as catequizando/as a Cristo!

1/7/2016

Annie Dora

É preciso se apaixonar por Cristo presente em cada pessoa ou catequizando, esse amor contagia e promove mudanças e verdadeiros milagres aconteceram. Paz e bem a todos.