Comunicação em Revolução | Paulus Editora

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Comunicação

19/02/2014

Comunicação em Revolução

Por Jakson F. de Alencar

Um dos problemas principais do mundo da comunicação social ao longo do século XX foi a crescente concentração de poder midiático nas mãos de alguns poucos grupos privados, reforçando desigualdades econômicas e sociais, dominação política e possibilitando elevado grau de indução cultural e ideológica. No caso do Brasil, esse problema tem sido ainda mais grave, com a concentração de meios de comunicação em poucos grupos familiares, sendo o mais forte o sistema Globo, com poderes quase “absolutos” sobre o país. No passado recente esse grupo costumava eleger presidentes, derrubá-los, nomear e demitir ministros, além de outras influências sobre o país que continua exercendo, mas em um grau cada vez menor. A verdadeira revolução que vem acontecendo no mundo das comunicações tem lhe tirado audiência e, com isso, diminui também seu poder.

A comunicação social que se dava de poucos meios para enormes audiências está cada vez faz funcionando em outra lógica, com audiências mais segmentadas e pulverizadas; comunicação de muitos para muitos, em um emaranhado de redes, as já famosas redes sociais. A informação e o entretenimento estão ficando mais multidirecionais e horizontais. Aos poucos, as hierarquias que herdamos da sociedade industrial estão ruindo. Na ausência de políticas públicas para democratizar e regular a comunicação no Brasil, essa revolução da comunicação tem dado uma significativa contribuição para tal democratização. Isso não exclui a necessidade de políticas públicas, mas ameniza o problema, diante da omissão de nossos legisladores e governos.

Com novas possibilidades de comunicação, informação e entretenimento via Internet, as pessoas, especialmente as novas gerações, não querem mais ficar à mercê das “grades” de programação, das poucas opções e do controle de informação exercidos pelos meios de massa estabelecidos. Por isso as audiências vêm caindo, bem como assinaturas e tiragens de jornais e revistas. No caso da rede Globo, há 10 anos sua média diária de audiência era de 21 pontos. Atualmente está na casa dos 14 pontos, uma perda de 30% ou de um em cada três telespectadores. Cito alguns exemplos emblemáticos: nos anos 80 o Jornal Nacional tinha 80% de audiência, hoje sua audiência está na casa dos 27%. Em 2013 houve dias que o jornal teve menos de 20 pontos. A novela das 9, que chegava a ter 63 pontos de audiência, hoje fica na casa dos 30 pontos. As demais novelas da emissora têm quedas e recordes negativos mais intensos. No caso do Fantástico, a queda é ainda maior. Em 2003, o programa tinha 36,3 pontos de média de audiência. No ano passado, caiu para 19,2 pontos – a menor desde sua estreia 1973.

Toda essa queda de audiência da rede Globo e dos meios de comunicação tradicionais em geral se explica por dois fatores principais, primeiro o já mencionado acima, as novas possibilidades de comunicação; por outro a percepção por parte do público da baixa credibilidade de certos programas e meios de comunicação. No caso dos noticiários, o público perdeu a atração quase mística que tinha por alguns programas, principalmente o Jornal Nacional, passando para um posicionamento desconfiado, distante e cético. Em qualquer conversa sobre o noticiário impresso ou audiovisual, o número de críticas sempre supera a quantidade de elogios. Há 20 ou 30 anos, as pessoas apenas repercutiam os fatos, dados e eventos noticiados na TV e nos jornais. Hoje, as pessoas se mostram mais preocupados em identificar quem está por trás da notícia, quem são os beneficiários e os prejudicados, conhece outras versões em canais de informação alternativos oferecidos na Internet. Entretanto muita gente ainda continua simplesmente repetindo o que assiste ou lê nos meios de massa.

Com relação ao entretenimento, também há muitas outras possibilidades para o tempo livre oferecidas pela internet, ao que o público cada vez mais se acostuma. As novas gerações, sobretudo, não tem muita paciência pra assistir novelas. Eles passam a preferir seriados curtos, vídeos do youtube, filmes, games, navegar nas redes sociais… Pesquisas atestam isso. As novelas são longas, com estórias e fórmulas repetitivas e entediantes. Também podemos perceber no nosso próprio dia-a-dia essas mudanças. Já há casos de jovens que pediriam aos pais para retirar a televisão dos seus quartos, por não usá-la mais. Com a ampliação do acesso à Internet no país e a melhoria das condições de acesso e velocidade, esse processo tende a aprofundar-se. A democratização dos meios de comunicação, seja por essas vias das mudanças culturais e tecnológicas, seja por iniciativas políticas e democráticas de regulação da comunicação social, aprimorará a democracia no país como um todo, diminuindo os males causados pela concentração excessiva de poder por parte dos meios de comunicação.

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