Comunicação Construtiva: A Mensagem do Papa para o Dia Mundial das Comunicações | Paulus Editora

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Comunicação

27/03/2017

Comunicação Construtiva: A Mensagem do Papa para o Dia Mundial das Comunicações

Por Jakson F. de Alencar

A mensagem do papa Francisco para o dia das comunicações sociais de 2017 tem como tema “Não tenhas medo, que Eu estou contigo” (Is 43, 5). Comunicar esperança e confiança, no nosso tempo. O papa ressalta a importância dos comunicadores e de todos quantos se alimentam dos frutos da comunicação não ficarem fixados ou reduzidos às más notícias: guerras, terrorismo, escândalos e todo o tipo de falimento nas vicissitudes humanas. Não significa alienar-se da realidade e dos fatos ruins que acontecem, mas é não ficar somente nisso: seja na busca gananciosa por mais audiência enfatizando tragédias e o pior daquilo que há na sociedade, explorando isso de maneira sensacionalista; seja o público não se fixar na comunicação como um gosto mórbido pelo “circo dos horrores”.

A temática nos faz lembrar um antigo clássico do cinema, geralmente veiculado aos estudantes de jornalismo, chamado “A montanha dos sete abutres”. Nesse filme um homem fica soterrado em uma mina no meio de uma montanha. Um jornalista noticia o fato, alcança boa repercussão e, logo, muitos outros jornalistas chegam ao lugarejo para fazer a cobertura. O fato torna-se uma sensação na mídia, a qual começa a usar táticas inescrupulosas e sensacionalistas para tirar proveito da situação. Chegam, inclusive, a retardar o resgate do homem para que o caso possa se estender por mais dias. Essa ficção é algo que acontece muito na realidade. Basta lembrar todas as últimas tragédias acontecidas no mundo, o quanto são exploradas pela mídia dia e noite, o quanto garantem de elevados índices de audiência e depois são esquecidas. A cada tragédia monta-se um circo da mídia e do público. Há nisso algo dos “abutres” do filme: o proveito, o lucro e a satisfação com a desgraça alheia. No triste caso recente do desastre ocorrido com o avião em que viajavam os jogadores do Chapecoense se fez algo semelhante. O caso foi explorado dia e noite por cerca de 15 dias. Os telejornais tiveram os mais altos índices de audiência do ano; era o único tema de conversas e de busca de informações no período.

Geralmente a mídia e o público se interessam muito por tragédias e males. Veículos de mídia acabam se tornando aquilo que o papa chama na mensagem de “protagonistas do mal”. Depois, encerrada a fase da maior audiência, nada faz para minimizar a causa que levaram àquele mal ou àquela tragédia; nada fazem para “evidenciar as possíveis soluções, inspirando uma abordagem propositiva e responsável nas pessoas a quem se comunica a notícia”. Pelo contrário, parece que há, um desejo mórbido que mais males e crimes aconteçam para que mais elevadas audiências sejam garantidas e outros dividendos sejam ganhos.

É o que acontece, por exemplo, com o noticiário sobre corrupção no Brasil. A mídia faz um grande circo, ganha audiência, chantageia governantes, legisladores e juízes. Políticos e juízes que tomam medidas favoráveis aos interesses midiáticos jamais têm seus casos de corrupção propalados. Governos que não liberam polpudas verbas publicitárias para a mídia são ameaçados via noticiário de sofrerem campanhas difamatórias e com frequência passam por isso. Todo o noticiário sobre corrupção rende muita pauta e audiência e não requer tantos recursos e esforços que requerem grandes reportagens, basta uns repórteres nos salões do poder, um agente de justiça que vaze informações, um repórter na porta da delegacia. Mas na hora de contribuir para elucidar o povo sobre profunda reforma política e judiciária que garanta melhor funcionamento das instituições, não há apoio da mídia. Esta ao invés, quase em todas as eleições colabora na campanha dos piores e mais corruptos candidatos, certamente com o interesse de lucrar com isso.

O papa nos exorta, como cristãos, e também todas as pessoas de boa vontade a não entrar ingenuamente nessas ondas e a não contribuir com elas; a promover “uma comunicação construtiva, que, rejeitando os preconceitos contra o outro, promova uma cultura do encontro por meio da qual se possa aprender a olhar, com convicta confiança, a realidade”. Busquemos dar nossa contribuição, seja como comunicadores cristãos (e todos se comunicam no dia-a-dia, não só quem tem meios de comunicação), seja exigindo dos meios de comunicação respeito à dignidade humana e promoção do bem-comum e justiça social; seja não dando audiência aos meios que são “protagonistas do mal”.

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