Ainda a formação dos catequistas | Paulus Editora

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Catequese

09/05/2016

Ainda a formação dos catequistas

Por Solange Maria

Quanto mais formado o catequista, certamente melhor é o encontro catequético que ele realiza. Todo esforço e investimento na formação dos mesmos não será em vão. Mas a preocupação principal de quem coordena a catequese não deve ser a formação intelectual ou pedagógica do catequista. O centro da formação do catequista deve ser a experiência cristã de Deus que ele mesmo deve fazer e comunicar aos catequizandos. Ou melhor, o núcleo duro da formação catequética não deve ser um denso conteúdo teológico ou algumas técnicas de trabalho em grupos para as idades específicas, mas o encontro com o Ressuscitado.

Um catequista com boa teologia é mais que desejável. Se sua teologia for ruim, ele vai comunicar um Deus estranho, uma caricatura de Deus, uma imagem distorcida do Deus de Jesus Cristo. Se sua teologia for sustentada pelo medo do castigo, por exemplo, seu Deus não será misericordioso como o Pai bondoso que Jesus nos apresentou. Será um juiz implacável, cheio de cólera, doido para vingar as ofensas recebidas.

E tudo isso ainda baseado em textos, por exemplo, do Antigo Testamento. Ora, uma boa teologia evita essa caricatura de Deus; um mínimo de conhecimento bíblico evita esses fundamentalismos. Outro exemplo, se a teologia do catequista for aquela da moral jansenista, que não admite nenhum deslize ou descuido da parte dos pobres mortais, ele vai com certeza ensinar dogmas e normas morais que escravizam, e a fé cristã servirá para cercear, coagir, culpabilizar, em vez de libertar, acolher, promover e amar. No entanto, se ele conhece um pouco da teologia moral cristã, verá que não é bem assim. Sua teologia vai definir sua atitude pastoral.

O mesmo seja dito em relação à pedagogia. Se o catequista é conhecedor de um mínimo de noções pedagógicas, será mais criativo no encontro e mais respeitoso com o processo pessoal do catequizando. Se não tem a menor noção de nada, é provável que ele tenha atropelos no caminho. Pode cismar de colocar crianças de castigo, de exigir de todos o mesmo resultado intelectual sem respeitar os processos cognitivos de cada um, de se impor arbitrariamente sem criar empatia com o grupo… Ora, um pouco de pedagogia vai bem ao catequista e evita erros grosseiros, possibilitando um salto qualitativo nos encontros catequéticos.

Tudo isso é bacana, mas ainda não será suficiente se o catequista não for desafiado a, todo dia, fazer de novo a experiência cristã de Deus que ele mesmo comunica aos catequizandos. Conhecimentos não mudam o coração, apesar de ajudar a redimensionar os conceitos que influenciam nas escolhas do coração. O mais importante não é oferecer aos catequistas conhecimentos de conceitos teológicos, bíblicos e morais, mas ajudá-los a conhecer o próprio Deus que se dá generosamente a cada um de nós. Se a formação oferecida aos catequistas for oportunidade de fazer a experiência do encontro com o Ressuscitado e funcionar como espaço de liberdade para renovar o compromisso com ele, então a catequese terá boas bases para se afirmar como iniciática. Os catequistas, mesmo tateando nas questões teológicas, vão conhecer o Deus vivo que ama e perdoa. Sua formação será mistagógica. Primeiro experimentam o mistério; depois tentam tematizá-lo, dar as razões da fé. Para a pedagogia da iniciação, esse é o caminho formativo.

1 comentário

10/5/2016

Tiago Amaral

Texto excelente. Muito sensível e claro. Me chama a atenção o tema da mistagogia, que se insere no campo da espiritualidade cristã. A verdadeira espiritualidade nos faz caminhar pelos mistérios de Deus e assim encontrar sentido na vida. E a catequese se torna meio de experiência em Deus.