Em tempos de intolerância e polarização, a COVID-19 inaugurou uma nova era, chegando no cenário mundial com a força de um furacão capaz de desestabilizar a economia; distanciar socialmente os seres humanos; escancarar a desigualdade social; provocar insegurança e medo, mas também estimular o negacionismo e a insensibilidade; além de ceifar milhões de vidas no Planeta Terra, causando sofrimento a tantas famílias que perderam entes queridos na dura batalha contra o vírus letal. Ao experimentar essa realidade difícil e controversa, a pergunta que me veio ao coração foi “onde buscar inspiração para escrever sobre Deus, leveza, amor e fé diante de fatos tão árduos vividos hoje?”
Por muitas vezes, durante meses, as palavras me fugiram e não as encontrei em lugar algum dentro de mim. Elas foram insuficientes para expressar tamanha dor e transformar o caos em esperança. Desse modo, pude experimentar a solidão, a impotência, a inquietude ineficaz invadir o meu ser a cada novo dia. Pessoas queridas indo embora, outras lutando para ficar, algumas sendo atingidas indiretamente, seja na saúde ou no trabalho. Tudo junto e misturado. Um turbilhão de emoções que precisava ser colocado em ordem até mesmo para que a minha própria imunidade se mantivesse estável.
Neste percurso, pude ir percebendo na oração diária, um sentimento diferente surgindo aos poucos, de um maneira nunca antes experimentada. O começo do despertar se deu quando coloquei uma melodia na frase “a fé é o fundamento da esperança, é a certeza do que não se vê” (Hb 11,1), resgatando dela um sentido maior dentro de mim. Num certo dia, ao cantá-la incansavelmente, alcancei um entendimento de que a leveza da fé está diretamente ligada à ação de amar a Deus sem culpas, com delicadeza, gratidão e beleza. Enfrentando os desafios para além dos pesos habituais, das dores mais profundas, dos sentimentos menos nobres impostos a mim mesma na luta diária pela exigente sobrevivência.
Esse processo me possibilitou perceber a necessidade de desconstruir na razão e no coração, a ideia errada a respeito de amar a Deus com o peso da culpa, que me coloca em uma condição inferior de ser sempre devedora na relação com Ele. E por mais que queira agir conforme a sua vontade, segundo os princípios do amor, muitas vezes ao desconectar com a minha Fonte interior, nas tantas tribulações vividas, corri sérios riscos de me perder, perdendo a conexão ao me expor à exterioridade frenética, confusa, insegura, misturada, na qual tantas coisas me chegaram pelos olhos e os ouvidos, provocando muito medo.
Diante disso, o regaste da leveza da fé através da palavra e da música, ressignificou a centralidade do Seu amor na minha “estreita vida” durante a pandemia e sua incondicional solidez em meio às inúmeras tempestades. Interiormente tenho descoberto novas maneiras de crer ao me reconhecer agora mais do que nunca, cara a cara, nas tantas luzes e sombras, escrever a história com novas cores e desvendar outros modos de encontrar a mim mesma e às pessoas.
Portanto, o horizonte de sentido desse meu caminhar abriu um espaço para a ação de reconstruir a relação com Deus de um modo autêntico e simples, considerando a atuação necessária e imprescindível da fé em sua leveza realista. Pois, sendo ela é o “fundamento da esperança”, não posso, de jeito algum, tirar os olhos dessa certeza, para que meu pensar, sentir e agir se integrem verdadeiramente, e quem sabe assim, eu possa ser luz no mundo, sal na terra, fermento na massa e sementes ao vento, independentemente do que a realidade apresenta.
A alegria de crer em meio à guerra, de cultivar a esperança e ressignificar a morte, não fugindo e nem negando sua existência de ser sopro inevitável, pode hoje me instigar a um desejo mais profundo de libertação das tantas ilusões de “eternidade” que insisto carregar nas costas. Certamente, meu amado São Francisco de Assis, pode me ensinar a respeitá-la como irmã, e nisso reconhecer uma expressão maior da fé.
E ainda que diante do sofrimento desumano atravessado por todos nós neste último ano, em que 238.000 pessoas (fora as tantos que não entraram nas estatísticas por falta de tempo das equipes médicas notificarem) não deram conta de vencer esse vírus potente, quem sabe podemos afirmar que amar a Deus não deve ser com culpa, mesmo diante das tragédias, mas com a leveza que só a fé suscita. Assim, não será preciso colocar na conta dele essas perdas com a clássica frase: “Foi Deus quem quis!” Isto não é verdade diante da certeza de que Ele é quem dá a vida, sendo capaz de sustentá-la com misericórdia, mesmo diante de toda a fragilidade e insegurança que nos cerca por dentro e por fora.
Sandra Sousa, hoje, dia 29 de abril, dedicado à Sta Catarina de Sena li seu comentário sobre a leveza da Fé . Deixo aqui meu agradecimento por encontrar nas suas palavras eco de tudo que perpassa meu coração e entendimento nesse momento de pandemia que estamos atravessando! Sentia tudo isso em meu coração e não sabia como expressar! Obrigada por colocar em palavras nossos sentimentos contraditórios e, mesmo confusos, continuarmos a amar cada vez mais DEUS AMOR! Abrçs Theresinha
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