A lembrança dos que partiram: Comemoração de Todos os Fiéis Defuntos – Dia de Finados | Paulus Editora

Colunistas

Espiritualidade e Devoção

01/11/2023

A lembrança dos que partiram: Comemoração de Todos os Fiéis Defuntos – Dia de Finados

Por Antônio Lúcio da Silva Lima

Esta reflexão é fruto da leitura dos artigos de Dom José Gislon, Bispo de Caxias do Sul (RS); Dom Carlos José, Bispo de Apucarana (PR) e o Cardeal Orani João Tempesta, Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ).

Começo com uma explanação teórica e histórica breve, que se encontra na internet para quem quiser conferir. O Dia dos Fiéis Defuntos, Dia de Finados ou Dia dos Mortos é uma data que a Igreja Católica Apostólica Romana dedica aos mortos e suas almas, no dia 2 de novembro de cada ano. Desde o século II, alguns cristãos rezavam pelos falecidos quando visitavam os túmulos dos Mártires. No século V, a Igreja dedicava um dia do ano para rezar por todos os mortos já esquecidos.

O Dia de Finados, como é conhecido, foi instituído inicialmente no século X, na Abadia Beneditina de Cluny, na França, pelo Abade Odilo (ou Santo Odilon [962-1049], como chamado entre os católicos). Odilo de Cluny sugeriu, no dia 02 de novembro de 998, aos membros de sua Abadia que, todo ano, naquele dia, dedicariam suas orações à alma daqueles que já se foram. A ação de Odilo resgatava um dos elementos principais da cosmovisão católica: a perspectiva de que boa parte das almas dos mortos está no Purgatório, passando por um processo de purificação para que possam ascender ao Paraíso.

No estado de purgação, as almas necessitam, segundo a doutrina católica, de orações dos vivos, que podem pedir para elas a misericórdia divina e a intercessão dos Santos, da Virgem Maria e do principal mediador, o Deus Filho, Jesus Cristo. Nos séculos da Baixa Idade Média (X ao XV), a prática de orações pelas almas dos mortos tornou-se bastante popular na Europa, ficando conhecida pela alcunha de “Dia de todas as Almas”. Essa prática remonta ao período do cristianismo primitivo, dos séculos II e III, quando os cristãos perseguidos pelo Império Romano enterravam e rezavam por seus mortos nas catacumbas subterrâneas da cidade de Roma.

Desde o século XI os Papas Silvestre II (1009), João XVII (1009) e Leão IX (1015) obrigavam a comunidade a dedicar um dia aos mortos. No século XIII essa data passa a ser oficialmente celebrada em 2 de novembro, um dia após a Solenidade de Todos os Santos. A partir do século IV, foi acrescentada na Oração Eucarística a Oração por Todos os Fiéis Defuntos, para que a cada Missa os fiéis possam lembrar de quem já se foi. A doutrina católica evoca algumas passagens bíblicas para fundamentar sua posição (cf. Tb 12,12; Jó 1,18-20; Mt 12,32 e 2Mc 12,43-46).

Com a descoberta da América e o processo de colonização, o dia escolhido por Odilo de Cluny tornou-se ainda mais popular. Nos dias atuais, apesar do grande processo de secularização que a civilização ocidental sofreu ao longo da modernidade, o Dia de Finados continua a ser uma data especial, na qual a memória dos entes queridos que já se foram nos vem à mente e na qual, também, milhões de pessoas vão aos cemitérios levar suas flores, velas, sentimentos e orações.

No ciclo da vida, que para alguns pode durar uma centena de anos ou mais, e para outros pode ter a brevidade de uma flor rara, que não dura mais do que algumas horas, alguns dias, alguns meses ou alguns anos, não importa a brevidade do tempo, ninguém parte deste mundo sem deixar marcas no coração de alguém que ama.  

No dia 02 de novembro, celebrando o Dia de Todos os Fiéis Defuntos – Finados – todos nós temos alguém para recordar. Neste dia de silêncio e oração, reavivamos na memória as lembranças de pessoas que fizeram parte da nossa vida. São familiares, amigos, conhecidos, membros de nossas Congregações Religiosas, que marcaram a nossa vida e viveram a experiência da morte, mas os recordamos afetuosamente no coração e com a oração.  

Quando uma pessoa vive o seu caminho existencial, com todas as provações que fazem parte da vida do ser humano, e nós estamos profundamente ligados a ela, por laços afetivos de parentesco, de amizade, de consagração religiosa e de sacerdócio, choramos e lamentamos a sua partida. Porém, nos consolamos ou aceitamos quando entendemos que ela completou o seu peregrinar neste mundo, para viver a vida eterna e receber o abraço da ternura e da misericórdia do Pai, no dia da ressurreição.  

A vida e a morte nos provam e, às vezes, temos o coração ferido porque a vida nos aproxima e a morte nos separa. Perder uma pessoa que amamos, que faz parte da nossa vida, dos nossos sonhos, dos projetos que construímos juntos é uma dor que atinge milhões de pessoas.

Finados não deve ser um dia de tristeza, mas sim de saudade, dia de lembrarmos daqueles que passaram por nossa vida e que agora estão na eternidade ao lado de Deus. Celebrar o Dia de Finados é celebrar a certeza na ressurreição. O próprio Jesus nos garantiu, quando Ele próprio venceu a morte, tendo dito aos Discípulos, que prepararia um lugar no céu. A morte num primeiro momento nos entristece e causa dor, não queremos perder os nossos entes queridos, mas temos que entender que como tudo na natureza, nós nascemos, crescemos, amadurecemos e morremos. E ainda pela fé acreditamos que essas pessoas estão descansando nos ombros do Bom Pastor.  

Algumas pessoas falecem precocemente devido alguma doença, violência ou acidente, e por mais que seja difícil, somos chamados a ver com os olhos da fé esses momentos. O Dia de Finados nos recorda que a nossa vida é um ciclo, como afirmei há pouco: nascemos, crescemos, amadurecemos e morremos. Porém nós temos a certeza da vida que continua na eternidade. Estamos aqui de passagem, a vida é um sopro e não sabemos qual será o dia e a hora que nos encontraremos com Deus. A morte é a etapa final desse ciclo que nos dá a oportunidade de abrir os olhos para a eternidade. É difícil nos separar daqueles que amamos e a morte com certeza é um momento duro, mas celebramos com saudade e não com tristeza essa data, tendo a certeza de que um dia nos encontraremos com quem já se foi.  

O Dia dos Finados suscita questionamentos e várias interpretações: muitos pensam que não há o que fazer pelos que já morreram, pois acreditam que a morte é o fim de tudo. Para outros, ainda, é um dia trágico, pois, de certa forma, antecipa a cada ano o que seremos todos, um dia. Mas, graças a Deus, para muitos, é um dia de esperança e comunhão com quem amamos e continuamos a amar, apesar de termos perdido sua presença física neste mundo chamado de “vale de lágrimas”, como rezamos na Salve Rainha.

A celebração do Dia de Finados é uma oportunidade para fazermos uma reflexão sobre a vida. Ela terminará para todos nós aqui neste mundo, é apenas uma questão de tempo. Além disso, para a eternidade não poderemos levar nada de material. Levaremos apenas o bem que tivermos feito para nós e para os outros. Logo, deve ser uma tomada de consciência de que ser feliz e viver bem não quer dizer acumular tesouros, prazeres ou glórias, mas fazer o bem e preparar uma vida eterna com Deus. Que a Virgem Maria e São José intercedam por nós! Que os Fiéis Defuntos, pela misericórdia de Deus, descansem em paz. Amém! 

Pe. Antônio Lúcio, ssp

nenhum comentário