ABRIR-SE À PALAVRA
Para além da cura física da audição e da fala, o episódio do surdo que falava com dificuldade mostra, simbolicamente, o que significa tornar-se discípulo de Jesus: superar o fechamento em si mesmo e deixar-se tocar pelo Mestre, para abrir-se a Deus e à sua palavra.
Diz o ditado que “pior surdo é aquele que não quer ouvir”. Quando nos fechamos em nosso próprio egoísmo, acabamos tapando os ouvidos diante de Deus. E, se comunicamos algo ao mundo, é apenas algo segundo nosso modo de julgar e agir, por vezes distante do projeto de Deus e contrário a ele. Nesse caso, as palavras de Jesus a seus discípulos servem também para nós: “Vocês têm olhos e não veem, têm ouvidos e não ouvem?” (Mc 8,18).
Jesus retira aquele homem surdo da multidão. Toca-o com saliva, que era considerada contagiosa. Para abrir-nos a Deus, é necessário um espaço e um tempo só nosso, longe da multidão, a fim de estar a sós com Deus e deixar-nos tocar por ele. Isso para que nossos ouvidos se abram, para que nossas atitudes de fechamento se contagiem com o modo de ser e agir de Jesus e assim se transformem em atitudes de diálogo, partilha e comunicação da vida.
A atitude fundamental que Jesus exige do discípulo está na expressão aramaica “efatá!”, que significa “abra-se!” É essencial para os discípulos abrir-se à palavra de Jesus. Só assim eles poderão ser transformados por ela, e só assim poderão transmitir ao mundo a novidade que Jesus vem realizar.
Assim como o Pai havia criado tudo e visto que era bom, Jesus recria a humanidade, fazendo bem todas as coisas que o Pai o encarregou de fazer. Ele continua a nos tocar, com uma voz diferente da voz da multidão, como se continuasse a dizer a cada um de nós: “Abra-se à minha palavra e ao meu modo de ser”. Sua voz liberta e nos torna sujeitos, para que também nós tenhamos voz e sejamos comunicadores da boa-nova que ele vem revelar.
Pe. Paulo Bazaglia, ssp

É um periódico que tem a missão de colaborar na animação das comunidades cristãs em seus momentos de celebração eucarística. Ele é composto pelas leituras litúrgicas de cada domingo, uma proposta de oração eucarística, cantos próprios e adequados para cada parte da missa e duas colunas, uma reflete sobre o evangelho do dia e a outra sobre temas relacionados à vida da Igreja.
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