A Carta de Judas faz parte das assim chamadas “Cartas Católicas”. Essas cartas oferecem uma amostra da “unidade na diversidade” no âmbito das primeiras comunidades cristãs e são também hoje um exemplo da verdadeira catolicidade, unidade sem uniformização. A verdadeira catolicidade não é uniformidade, mas diversidade teológica e eclesiológica em torno do único salvador Jesus Cristo e de seu único mandamento do amor a Deus encarnado no amor fraterno.
A breve Carta de Judas deve ser situada próxima a Carta de Tiago, pois ele mesmo se identifica “servo de Jesus Cristo e irmão de Tiago”. Trata-se de Judas, não o Iscariotes. O autor de Judas não se intitula apóstolo. No Novo Testamento temos várias pessoas com o nome de Judas, provavelmente o autor não deve ser confundido com nenhum deles. Trata-se, portanto, de um escrito pseudônimo. Atribuir a carta a uma liderança importante confere mais autoridade ao texto. Como o autor faz referências aos textos apócrifos, nos inícios a carta não foi bem aceita pelos “pais da igreja”.
A carta faz uma crítica severa aos “ímpios” que se introduziram sorrateiramente na comunidade e a desmoralizam. Judas usa de toda a força retórica para desmoralizá-los. Esses supostos mestres não levam a sério os ensinamentos de Jesus Cristo. A carta é um alerta para as comunidades não se deixarem enganar por esses “falsos profetas”.
Em nossos dias, a Carta de Judas não é muito conhecida. Porém parece muito atual quando faz menção aos “falsos mestres” que procuram desviar as comunidades do compromisso com o projeto libertador de Jesus. Quando há disputa e centralização de poder, provocando divisão nas comunidades
A data de sua composição é reconhecida pelo final do I século d.C., escrita provavelmente em alguma parte da Síria ou da Ásia Menor, numa época em que os ensinamentos dos apóstolos precisavam ser recordados. A carta é fruto de algum entusiasmado pela causa de Jesus Cristo. Os destinatários são os “eleitos que Deus Pai ama e Jesus Cristo protege” (Jd 1,1). Podemos esquematizar a Carta de Judas no seguinte esquema:
1. Saudação (Jd 1-2): Os destinatários da Carta são pessoas consideradas escolhidas e amadas pelo Pai e protegidas por Jesus Cristo. O autor deseja a misericórdia, a paz e o amor à comunidade.
2. Combate aos “intrusos” (Jd 3-4): Parece que o autor teve que mudar o objetivo da carta por causa de algumas pessoas que se infiltraram na comunidade para desviá-la da fé em Jesus Cristo. A motivação da carta é alertar as comunidades contra essas pessoas.
3. A intervenção de Deus (Jd 5-16): O autor apresenta vários exemplos tirados da Escritura e dos textos apócrifos para mostra que Deus, mais cedo ou mais tarde, intervém na história. Ele cita os casos do povo tirado da escravidão no Egito, mas recusou a entrar na Terra Prometida, os anjos que se desviram do seu objetivo e o caso de Sodoma e Gomorra, exemplos de perversão.
4. Exortação à comunidade (Jd 17-23): Para o autor, quem provoca divisões e compromete o evangelho de Jesus não possui o Espírito de Deus. O remédio diante das ameaças à fé são as práticas que reforçam a vida comunitária: oração, amor, confiança e compaixão.
5. Conclusão: hino de louvor (Jd 24-25): Fugindo um pouco das saudações normais, o autor conclui a carta com um hino de louvor a Deus em sua glória, reconhecendo sua majestade, força e poder.