Simpósio PAULUS de Teologia e Pastoral discutiu o cenário atual do capitalismo e o olhar da Igreja sobre o tema | Paulus Editora

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20/10/2017

Simpósio PAULUS de Teologia e Pastoral discutiu o cenário atual do capitalismo e o olhar da Igreja sobre o tema

Por Imprensa

( Dílvia Ludvichak, Prof. Claudenir Módolo Alves, Prof. Pe. Paulo Suess, Prof. Jorge Miklos, Dom Luiz Antonio Lopes Ricci, Prof. Alzirinha Souza, Prof. João Décio Passos e Prof. Jung Mo Sung).

Encontro foi marcado por discussões no âmbito do trabalho e como a Igreja deve se posicionar diante de uma realidade que pode, segundo a análise dos especialistas, afetar de forma significativa a vida dos brasileiros.    

“Na sociedade de serviços, teremos uma diminuição da condição de desempregados no Brasil; mas isso não quer dizer que quem estiver empregado sairá da condição de pobreza.” (Marcio Pochmann)

A reforma trabalhista é um assunto atual, mas, diante de uma análise histórica e sob a perspectiva do economista e professor Marcio Pochmann, é possível considerar que o Brasil caminha para um retrocesso. E a Igreja, o que tem a ver com esse cenário? Na última quinta-feira, 19, o 4º Simpósio PAULUS de Teologia e Pastoral propôs essa reflexão para cerca de 200 pessoas no auditório da FAPCOM – Faculdade Paulus de Comunicação.

Pochmann foi responsável pela abertura do evento e levou uma ampla abordagem sobre as condições de trabalho no Brasil, no passado, no presente e no futuro. Para ele, o Brasil pode viver um retrocesso. Para contextualizar, apresentou uma análise da sociedade agrária, que durou por volta de quatro séculos, três dos quais vividos sob o regime escravocrata. Aqui, os trabalhadores tinham jornadas longas e comprometiam a maior parte do tempo de vida no trabalho.

Na sequência, o início da sociedade industrial (de 1930 a 1980) trouxe avanços, mesmo diante de um momento complexo. Nesse período, a expectativa de vida era em torno de 55 a 60 anos de idade. Posteriormente, o Brasil chega à sociedade urbana industrial: o estudo, em geral, é realizado na infância e juventude, e, com o conhecimento estocado, o indivíduo vai exercer sua profissão durante toda a vida. Nesse retrato de sociedade há inovações referentes às normas que regem o emprego: a jornada de trabalho é regularizada e o idoso vive a condição inativa, passando a receber a aposentadoria, por exemplo.

O momento atual, segundo Pochmann, é de transição para a sociedade de serviços. Nessa sociedade, cuja expectativa média de vida tende a aumentar para quase cem anos de idade, abre-se outra perspectiva do ponto de vista da relação do trabalho com a vida: “Estamos entrando numa sociedade tecnologicamente muito avançada, cujo principal ativo passa a ser o conhecimento, o que abre janela para o entendimento de que a educação não tem que ser por estoque, apenas uma fase da vida. Estamos falando de uma educação que não tem conexão somente com o trabalho, mesmo porque esse trabalho vem se alterando profundamente. Estamos vendo hoje roteiros e trajetórias ocupacionais muito diversos daqueles do jovem de antes, que tinha a mesma profissão por 30 ou 35 anos em média. Hoje, eles (os jovens) são desafiados a exercer diferentes funções, não apenas uma única profissão”, diz Pochmann.

Ainda sob o olhar do especialista, a tendência é que esses novos desafios desvalorizem cada vez mais o trabalhador. Com a Reforma Trabalhista, a terceirização ganha espaço e vantagens, contribuindo para desonerar as empresas do custo de trabalho. Isso facilita o processo de desaparecimento da classe média assalariada vinculada ao estado brasileiro e muda a forma como os empresários se relacionam com os funcionários. Os concursos públicos também passam por mudanças, podendo, inclusive, deixar de existir.

Pochmann finaliza provocando uma reflexão sobre os rumos que o Brasil toma: “Estamos caminhando para o que era o Brasil por volta de 1930. Um contrato de oito horas poderá ser dividido em quatro contratos de duas horas, o que significa que diminuirá o número de desempregados no Brasil, mas não que as pessoas empregadas terão renda para sair da condição de pobreza”, finaliza.

( Prof. Marcio Pochmann e Prof. Jung Mo Sung).

As reflexões do economista apontam uma sociedade orientada para o dinheiro, justamente o assunto que aborda o professor Jung Mo Sung. Baseado no que o Papa Francisco chama de “idolatria do dinheiro”, ele discorreu dando continuidade ao tema e mostrando a importância de a sociedade estar atenta e não entrar na globalização da indiferença: quando se acostuma com a miséria, a pobreza e a dor que atinge o próximo; quando se passa por um morador de rua sem ao menos notar a sua presença.

Jung trouxe reflexões de alguns filósofos sobre o mercado de trabalho e sua relação entre o bem e o mal, capitalismo e religião, trabalho escravo e, claro, a responsabilidade da Igreja diante dessa realidade. O professor lembrou alguns textos de Papa Francisco: “O Papa fala: assim como o mandamento ‘não matarás’ põe um limite claro para assegurar o valor da vida humana, também devemos dizer não a uma economia da exclusão e da desigualdade social, pois essa economia mata […]. A crise financeira que atravessamos nos faz esquecer que, na sua origem, há uma crise antropológica profunda: a negação da primazia do ser humano. Criamos novos ídolos. A adoração do antigo bezerro de ouro encontrou uma nova e cruel versão no fetichismo do dinheiro e na ditadura de uma economia”, lembrou Jung.

O professor terminou a palestra falando que é preciso descobrir na Bíblia que Deus nunca fez distinção entre econômica, política, família. Deus faz distinção entre pessoas que têm compaixão pelo sofrimento alheio, que defendem a vida, e pessoas que são insensíveis, adoram o dinheiro e constroem instituições que exploram, oprimem e excluem.

Após as palestras, os participantes foram direcionados aos workshops escolhidos no momento da inscrição, todos voltados para o tema central “Capitalismo e religião”. São eles: “Para quem serve a economia? – Ressignificação de sistema econômico na atualidade”; “A cultura de consumo como dimensão do sistema capitalista no magistério do Papa Francisco”; “Sobriedade feliz (Ls 224)”; “A morte social: bioética e mistanásia”; “A missão da Igreja versus a nova antropologia do neoliberalismo”; “Mídia: o novo espírito do capitalismo” e “O ser capitalista e o ser evangélico”.

Para encerrar o simpósio, os palestrantes responsáveis pelos workshops fizeram uma síntese do tema explorado no evento.