Durante o Encontro Internacional pela Paz, realizado na terça-feira, 28 de outubro, a voz do papa Leão XIV exortou:
“O mundo tem sede de paz: precisa de uma verdadeira e sólida era de reconciliação, que ponha fim à opressão, às demonstrações de força e à indiferença à justiça. Chega de guerras, com seu doloroso tributo de morte, destruição e exílio!”.
O pedido do pontífice, não por acaso, ocorre em um momento em que o mundo é impactado por diferentes guerras. Nossa história, infelizmente marcada por tragédias como as de Gaza, da Ucrânia e do Rio de Janeiro, jamais nos preparará para a próxima vez. Cada novo episódio de barbárie é vivido como a estreia de uma indignação ainda não acessada.
A guerra e a violação da vida, em diferentes lugares, têm ocupado um espaço que não lhes pertence por direito. Para quem acredita no projeto de vida plena anunciado por Jesus Cristo, o sentimento mais humano possível é ter a convicção de que jamais poderíamos ter chegado a este ponto. É impossível normalizar a violência. Isso seria uma grave incoerência diante da fé que professamos.
Na obra Decolonizar a Palestina: a terra, o povo, a Bíblia, o autor palestino Mitri Raheb descreve como a concepção de poder desassociada da humanidade é capaz de pôr em dúvida o valor da vida humana. É na voz de quem vive uma das guerras mais tristes da nossa história que podemos entender o quão doloroso é lutar pelo direito de existir.
O silêncio, unido às lágrimas inconsoláveis de tantas pessoas que sofrem, nos dá a dimensão da tragédia. É quase possível tocar com as próprias mãos o sentimento devastador e a dúvida que ecoa: até quando a violência reinará? Até quando a morte será uma realidade mais comum do que a vida?
Para se compreender o poder destrutivo de uma guerra, não é preciso ir tão longe quanto Gaza. Em nosso próprio quintal, nos últimos dias, fomos impactados pela imagem de centenas de corpos enfileirados após o início da megaoperação no Rio de Janeiro.
Uma imagem que, certamente, não sairá da nossa memória produzida justamente em um cenário tão próximo à imagem do Redentor, que significa “aquele que redime e liberta”.
Como Igreja, unimo-nos em oração por todas as vítimas: aquelas que perderam a vida de forma tão trágica e também as que convivem diariamente com o medo e a incerteza de chegar em casa ao fim do dia.
Que este momento de dor nos conduza à conversão do olhar e do coração. Que em nossas orações, possamos pedir, assim como fizeram Beth Carvalho e Mercedes Sosa, “Que a dor não me seja indiferente”.