Bem-aventurado Roque Gonzalez e companheiros – mártires | Paulus Editora

Santo do dia

19/11/2024

Bem-aventurado Roque Gonzalez e companheiros – mártires

Roque Gonzalez de Santa Cruz nasceu em Assunção, Paraguai, em 1576, filho de pais espanhóis, de elevada posição e de autêntico cristianismo. Em sua infância e adolescência sobressai entre seus companheiros por sua vida de honestidade, recolhimento e pureza, por seu espírito e prática de oração ou piedade, bem como pela frequente recepção dos sacramentos, máxime da eucaristia, o que na época era exceção. Exercia, além disso, entre seus colegas, verdadeira liderança, e todos lhe queriam bem. Notável era a sua coragem e seu caráter era forte e coerente em tudo que dizia respeito a Deus e à religião.

Desde cedo Roque se preocupou com a sorte dos índios, cuja língua dominava. Pouco a pouco e vida afora, passou a conhecer e atingir profundamente a alma guarani. Sentia, porém, mais que tudo a exploração indigna e inumana, de que o índio era alvo constante da maioria dos “encomenderos”. Estudou com os jesuítas. Foi ordenado sacerdote em Assunção, contando apenas 22 anos de idade.

Recém-ordenado, o P. Roque já teve sua primeira missão junto aos índios ervateiros — que trabalhavam em verdadeira escravidão — na serra de Maracaju, ao norte de Assunção. Fez-se aí tudo para todos. Mas regressou para Assunção por ordem superior e foi nomeado cura da catedral. Ao que parece, não teve aceitação de todos, sobretudo de espanhóis e “encomenderos”, porque se preocupava demais com os índios e porque não era “letrado” — tinha estudado apenas em Assunção, e não em Alcalá ou Salamanca…

Todavia, espalhava-se sua fama de sacerdote virtuoso, dedicado e prudente. Não queria honrarias, por isso recusou o cargo de Provisor e Vigário Geral da Diocese, e buscou as fileiras da Companhia de Jesus, na qual entrou a 9 de maio de 1609, sentindo-se à vontade entre os filhos de santo Inácio, reconhecendo aí sua verdadeira vocação.

Pouco após sua entrada, foi-lhe confiada, junto com o experimentado P. Vicente Griffi, uma das tarefas mais difíceis e perigosas: a pacificação dos terríveis, belicosos e valentes guaicurus do Chaco. Foi depois, como o chamaram, o segundo fundador da redução modelo de santo Inácio Guaçu. Em 1611, ganhou aí do P. Torres Bollo, provincial, um quadro de Nossa Senhora da Conceição, que depois se tornou a célebre “conquistadora”, que haveria de acompanhar o P. Roque em todas as suas longas e arriscadas empresas missionárias no Paraná e no Uruguai.

Pestes, fomes, doenças, catequese, educação rural e agrícola, com tudo isso P. Roque se preocupou e se ocupou. Superava a tudo e a todos com a sua caridade e o seu fervor. Muitos missionários jovens foram mandados fazer estágio com ele.

A 3 de maio de 1626 celebrou a santa missa, a primeira no solo gaúcho brasileiro, batizando a nova fundação de “São Nicolau’’; era a primeira semente do Evangelho, da fé e da civilização nessa região, que desabrocharia, depois, de forma esplêndida.

Em 1628 fundou outras quatro reduções: Candelária, Caaçapá-Mirim, Caaró e Assunção do Ijuí ou Pirapó. Mas o seu trabalho missionário atraía o ódio dos feiticeiros e dos maus índios. E assim, a 15 de novembro de 1628, logo após a santa missa, emissários do soberbo feiticeiro Nheçu, que dominava a região próxima, descarregaram dois violentos golpes de itaiçá (clava de pedra) na cabeça de Roque. Pouco depois assassinaram também o companheiro de Roque, P. Afonso Rodrigues. E no dia 17 foi a vez do P. João de Cas-tilho, a 50 km de Caaró.

No dia seguinte, ao procurarem reunir lenha para queimar as vítimas, os indígenas enfurecidos ouviram uma voz: “Matastes a quem tanto vos amava e queria! Matastes, porém, meu corpo apenas, pois minha alma está nos céus. Virão meus filhos castigar-vos, sobretudo pelo fato de haverdes maltratado a imagem da Mãe de Deus (a ‘Conquistadora’). Voltarei, contudo, através de meus sucessores, para vos ajudar nos muitos trabalhos, que por causa da minha morte vos hão de sobrevir”. Atribuíram essa voz ao coração do P. Roque; então o arrancaram e transpassaram. Hoje o coração está conservado num relicário.

Extraído do livro:
Um santo para cada dia, de Mario Sgarbossa e Luigi Giovannini.