28 de setembro – 26º DOMINGO DO TEMPO COMUM | Paulus Editora

O Domingo
28 de setembro – 26º DOMINGO DO TEMPO COMUM

O CORPO DE LÁZARO

Na calçada, algo parecido com corpo de gente. É Lázaro. O nome Lázaro signifi­ca “Deus ajuda”. Onde está Deus quando as feridas de Lázaro sangram? Onde ele está, quando as palavras de Lázaro en­gasgam no pigarro da dor (a dor de não ser)? Onde está Deus quando a tontura da fome contorce o estômago de Lázaro e o faz gemer? Onde ele está quando o cor­po franzino de Lázaro treme e ninguém o abraça? Onde está Deus quando uns se banqueteiam com finas e fartas igua­rias, enquanto a Lázaro restam migalhas? Migalhas de pão para um farelo de vida. A vida é farelo, feito neblina.

O corpo de Lázaro na rua, enrola­do em panos imundos. Move-se. Treme. Encurvado. O cobertor é curto. Avenida movimentada. Centro, símbolo do po­der econômico. Econômico, especial­mente, no gasto com os pobres. Rico se veste com roupa de púrpura e linho fino. Banqueteia-se todos os dias (cf. Lc 16,19). O luxo do carro Porsche e seu barulho orgulhoso contrastam com o chinelo gasto de Lázaro. Pé de Lázaro que ousa tocar o chão da avenida, que ora parece desfile de moda, ora parece o povo de Deus atravessando o mar Vermelho a pé enxuto (cf. Ex 14,21-22).

O sol ainda não apareceu. Dia enevoado. As lojas abrem-se. Suas vitrines são sedutoras. Há torres querendo al­cançar os céus. Anúncios, letreiros lumi­nosos. Tudo é movimento. Apesar do dia embaçado, a avenida não perde o brilho. Semáforos. Carros velozes, indo e vindo. Seus vidros são escuros, não se vê quem lá dentro está. Aqui fora não é diferente.

O tempo fica mais escuro. Começa a garoar. Apressam-se os passos. Abrem­-se grandes e pequenos guarda-chu­vas, todos escuros. O dia segue agita­do. E o corpo de Lázaro? Ah, o corpo. Permanece ali. Ninguém se deu conta dele. É mais um que deixa de existir aos olhos da multidão. E onde está Deus? No corpo de Lázaro, em suas feridas, em seus olhos feito prece, pedindo vida… O céu começa quando a indiferença é superada.

Pe. Antonio Iraildo Alves de Brito, ssp


O Domingo

É um periódico que tem a missão de colaborar na animação das comunidades cristãs em seus momentos de celebração eucarística. Ele é composto pelas leituras litúrgicas de cada domingo, uma proposta de oração eucarística, cantos próprios e adequados para cada parte da missa e duas colunas, uma reflete sobre o evangelho do dia e a outra sobre temas relacionados à vida da Igreja.

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