A PARTE BOA
Marta e Maria representam a novidade do ministério de Jesus. Naquele tempo, na mentalidade dos conterrâneos do Filho de Deus, era inadmissível que mulheres fossem discípulas. Elas estavam limitadas aos afazeres da casa, aos cuidados dos filhos e do marido, e às ocupações domésticas. Mais tarde, nas comunidades fundadas pelo apóstolo São Paulo, ele vai reforçar ainda mais essa novidade no seguimento de Cristo: “Não há judeu nem grego, não há escravo nem livre, não há homem nem mulher, pois todos são um só em Cristo Jesus” (Gl 2,28).
No contexto da visita de Jesus às duas irmãs, é importante destacar que ele está a caminho de Jerusalém. Esse caminho, mais do que um percurso geográfico, é caminho teológico, no qual o Mestre instrui seus discípulos sobre os desafios da missão, a realidade do Reino e, sobretudo, o evento trágico de sua condenação e morte de cruz. Mas também os adverte de que não acabará na morte. Ele ressuscitará.
O evangelista Lucas põe em cena Marta e Maria justamente para reforçar que, no caminho de Jesus, há espaço para todos e quem se dispõe a seguir os passos do Mestre escolhe a “parte boa”. A parte boa é o Evangelho, é Jesus mesmo, o Verbo que se fez carne e habitou entre nós (Jo 1,14). Assumiu nossa frágil condição humana, foi em tudo semelhante a nós, menos no pecado (Hb 4,15).
Marta e Maria são a imagem da mulher corajosa, que tem a possibilidade de ser e estar onde ela quiser. Uma mulher jamais poderia acolher um homem em sua casa – isso era papel do homem. Uma mulher jamais poderia sentar aos pés de um mestre. Ambos os gestos rompem os esquemas fechados e preconceituosos.
O fato de Marta insistir na preocupação com o serviço da casa não a põe numa categoria menor do que a de Maria. Na verdade, Marta só precisa priorizar e escolher a “parte boa”, e tudo o mais estará permeado de sentido, sem ser tão somente uma rotina de obrigações impostas. Sentar aos pés de Jesus é a parte boa. É dele que aprendemos o sentido da vida. Da vida presente e da eternidade.
Pe. Antonio Iraildo Alves de Brito, ssp
É um periódico que tem a missão de colaborar na animação das comunidades cristãs em seus momentos de celebração eucarística. Ele é composto pelas leituras litúrgicas de cada domingo, uma proposta de oração eucarística, cantos próprios e adequados para cada parte da missa e duas colunas, uma reflete sobre o evangelho do dia e a outra sobre temas relacionados à vida da Igreja.
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