MEMÓRIA PERIGOSA DA CRUZ
Na festa da Exaltação da Santa Cruz, o Evangelho anuncia que “Deus amou tanto o mundo, que deu seu Filho, para que não morra todo aquele que nele crer” (Jo 3,16). Jesus, no entanto, é presença incômoda, pois apresenta às pessoas o desafio de ter de decidir: agir, no amor, em favor da vida ou aderir aos esquemas e interesses de grupos dominantes.
Numa sociedade que estimula a competição, não se importando com os que vão ficando para trás, a cruz de Cristo torna-se memória perigosa. A cruz não foi fruto do acaso na vida de Jesus. Foi consequência do que anunciou e testemunhou.
Num tempo de retóricas agressivas e de dissonâncias cognitivas, potencializadas pelas redes digitais, anunciar e testemunhar Jesus significa dispor-se a vivenciar a memória perigosa do percurso empreendido por ele. Na presente cultura do esquecimento, requer coragem profética a quem se dispõe avivar a recordação do sofrimento de Jesus e das vítimas da humanidade. Não nos é permitido ignorar o sofrimento dos que sobrevivem à margem.
Há sempre o risco de dulcificar e até de justificar a cruz de Jesus. Com isso, abandonam-se as razões que a desencadearam em sua vida. Jesus foi solidário “com os pequenos e os pobres, os doentes e os pecadores, e se fez próximos dos aflitos e oprimidos” (Oração Eucarística para Diversas Circunstâncias IV); em consequência, houve prepotentes que se sentiram atingidos e arquitetaram a trama da cruz.
Num mundo marcado por tantas cruzes, somos chamados a descobrir na cruz de Jesus a denúncia das atitudes de falta de solidariedade e de indiferença, para retirar da cruz os crucificados. Na festa litúrgica de hoje, fazemos memória da cruz e dos sofrimentos provocados pelas cruzes do mundo, mas também entrevemos a força que brota da ressurreição. É dessa força que nos vem a luz e a inspiração para prosseguir e experimentar no cotidiano a vitória do amor do Crucificado-Ressuscitado. Afinal, só o amor faz agir assim!
Pe. Darci Luiz Marin, ssp

É um periódico que tem a missão de colaborar na animação das comunidades cristãs em seus momentos de celebração eucarística. Ele é composto pelas leituras litúrgicas de cada domingo, uma proposta de oração eucarística, cantos próprios e adequados para cada parte da missa e duas colunas, uma reflete sobre o evangelho do dia e a outra sobre temas relacionados à vida da Igreja.
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