O ESPÍRITO QUE TUDO RENOVA
Os evangelistas foram confrontados com os limites da linguagem humana ao falar da ressurreição de Jesus. Eles deviam encontrar maneiras de dizer o indizível. É certamente por isso que cada evangelista conta suas próprias histórias, como faz João, quando narra a aparição do Ressuscitado aos discípulos. O objetivo é provavelmente sugerir que, embora se trate de experiência indescritível, a aparição de Jesus não é fruto de uma alucinação, mas um evento real. Com efeito, se uma única aparição pode ser tomada como ilusão, uma segunda, oito dias depois, não deveria dar margens à dúvida. Que a cena seja extraordinária, isso é certo: o exemplo de Tomé (Jo 20,24-29) está aí para assegurar.
No texto de hoje, enquanto as portas estão trancadas, Jesus chega e fica entre os discípulos. Suas primeiras palavras são: “A paz esteja convosco”. A missão que faz dos discípulos testemunhas do Ressuscitado está enraizada na experiência do encontro com Jesus. No Quarto Evangelho, quem iniciou o envio foi Deus, o Pai. Agora, a missão do Filho estende-se aos seus seguidores, a começar pelos apóstolos.
O Espírito que desceu sobre Jesus no início (Jo 1,32-33; 3,34), ele o transmite, como o anunciou em diversas ocasiões (Jo 7,37-39; 14,26; 15,26; 16,1). Essa transmissão ocorreu no momento da sua morte: “inclinando a cabeça, transmitiu o Espírito” (Jo 19,30). No relato deste domingo, ele convida os discípulos a receber o Espírito depois de tê-lo soprado. Esse verbo é aquele que a Bíblia grega usa para dizer que o Criador comunica seu sopro ao ser humano (Gn 2,7; Sb 15,11), depois aos ossos secos, para que vivam (Ez 37,9).
Assim, o dom do Espírito faz dos discípulos novas criaturas. O Espírito é associado por João ao perdão dos pecados, característico da Nova Aliança (Jr 31,31-34). Trata-se de o pecador abandonar os pecados. Jesus nos convida a fazer prevalecer o bem sobre o mal, para que a vida seja mais forte. Porque, afinal, o dom do Espírito faz de nós novas criaturas, e somos convidados a difundir essa novidade por toda parte.
Christian Dino Batsi, ssp
O objetivo deste periódico é celebrar a presença de Deus na caminhada do povo e servir às comunidades eclesiais na preparação e realização da Liturgia da Palavra. Ele contém as leituras litúrgicas de cada domingo, proposta de reflexão, cantos do Hinário litúrgico da CNBB e um artigo que trata da liturgia do dia ou de algum acontecimento eclesial.
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