O início do Evangelho deste domingo nos leva a lembrar o que é contado, na primeira leitura, sobre Josué e Moisés. Aqui, o apóstolo João é quem pensa que apenas os membros do seu grupo podem lutar contra o mal, expulsando demônios. Sua lógica é a do confinamento num clube restrito que deve defender o que considera serem seus privilégios. Essa é uma lógica de competição, de ciúme, que pode ser resumida assim: “Quem não está conosco está contra nós”. Diante dessa lógica tão solidificada, Jesus explica que o oposto é o verdadeiro: “Quem não está contra nós está a nosso favor”.
Assim, quando se trata de vencer o mal, todos são potenciais aliados, desde que trabalhem a favor da vida – esse é o “milagre” de que fala Jesus. Não procede, portanto, a atitude de proteger as fronteiras de um grupo restrito e exigir a adesão formal. Trata-se de considerar como aliado quem, por meio da sua ação concreta, trabalha na mesma direção.
A lacuna entre as palavras iniciais de Jesus nesse Evangelho e a segunda parte do seu discurso é aparentemente completa, tanto que as traduções atuais da Bíblia inserem um subtítulo para marcar a mudança de tema. No entanto, não é descabido pensar que a menção “àquele que faz tropeçar (escandaliza) os pequeninos” tenha derivado do exemplo de alguém cuja atitude autoritária e exclusivista leve ao afastamento das pessoas e à desistência de seguir Jesus. Afastar outros membros da comunidade da fé em Jesus é algo bem sério. Isso é o que a severa advertência de Jesus nos faz sentir. A dureza de suas palavras sublinham a seriedade do que está em jogo.
Jesus então deixa de falar de quem “faz tropeçar” os pequeninos que acreditam nele e passa a discorrer sobre quem “tropeça” por ação da mão, do pé e do olho. O fato é que colocar obstáculos que fazem os outros tropeçar é um sintoma de que a própria pessoa já caiu e ainda se encontra nessa condição. Referindo-se às partes do corpo, Jesus propõe três vezes a mesma situação para nos convidar a discernir incessantemente e extinguir o que em nós mesmos pode levar-nos a cair, aquilo que pode impedir nosso progresso no caminho do Evangelho. O desafio dessa luta é encontrar a vida nova do Reino, evitando ficar presos a uma existência sem sentido nem alegria.
Christian Dino Batsi, ssp
O objetivo deste periódico é celebrar a presença de Deus na caminhada do povo e servir às comunidades eclesiais na preparação e realização da Liturgia da Palavra. Ele contém as leituras litúrgicas de cada domingo, proposta de reflexão, cantos do Hinário litúrgico da CNBB e um artigo que trata da liturgia do dia ou de algum acontecimento eclesial.
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