O Domingo – Palavra
09 de setembro – 23º DOMINGO COMUM

GESTOS E PALAVRAS PARA O BEM

O cotidiano está repleto de fatos que podem ser qualificados como exemplos de descaso à vida. Não é somente a “senhora ciência” ou os “senhores do mundo” que tomam decisões benéficas ou maléficas. Evidentemente não se quer amenizar o poder de ambos (ciência e política), mas chamar a atenção para as pequenas atitudes nossas de cada dia no que tange ao cuidado com a vida, sobretudo com a dos mais vulneráveis. Da mesma forma que são cruéis certas decisões dos altos escalões da pirâmide do poder, a inércia diante de fatos que pedem uma ação também pode sê-lo, ainda que não na mesma medida.

Um fato de 2009 (certamente haveria outros mais recentes, porém este parece ilustrativo): uma reportagem do jornal Zero Hora, de Porto Alegre/RS, de 4 de março daquele ano. A capa do periódico expunha uma sequência de fotos na qual se via um homem sendo agredido a chutes, pauladas e pedradas debaixo de uma ponte. Enquanto isso, sobre a mesma ponte, uma plateia assistia a tudo, como se estivesse diante de um espetáculo midiático. Pelo que se ficou sabendo, ninguém daquela multidão teve sequer a iniciativa de ligar para a polícia. “Parecia que era um filme e queriam ver a morte, um negócio macabro”, disse um soldado, que por acaso passava por ali e socorreu a vítima. Ele desceu sozinho e nenhum dos curiosos o ajudou.

O comentário de alguns no momento do socorro era: “Deixa ele morrer, é vagabundo”. Esse foi o teor da maioria dos outros comentários feitos nos dias seguintes ao fato, tanto no jornal impresso como em seu site. É como se o “diferente”, o outro, fosse estranho e não merecesse gestos e atitudes de compaixão. A vida nesse sentido parece destituída de qualquer valor. A visível falta de ação diante de um acontecimento como esse, em que uma vida era tirada, é reveladora de uma perda da capacidade de se indignar, de lançar “outro” olhar sobre as circunstâncias da vida.

Provavelmente essa inércia, ou falta de ação para o bem, encontre espaço tanto na arrogância das “elites” como na ignorância das “ralés”. Que a palavra e os gestos de Jesus abram e desatem nossa humanidade enrijecida e por vezes fria. A cura do surdo-mudo no evangelho de hoje, para além de toda riqueza simbólica, é um gesto político: todos devem ter voz, vez, sentir-se em casa no mundo.

Diácono Antonio Iraildo Alves de Brito, ssp


O Domingo – Palavra

O objetivo deste periódico é celebrar a presença de Deus na caminhada do povo e servir às comunidades eclesiais na preparação e realização da Liturgia da Palavra. Ele contém as leituras litúrgicas de cada domingo, proposta de reflexão, cantos do Hinário litúrgico da CNBB e um artigo que trata da liturgia do dia ou de algum acontecimento eclesial.

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