PELO SINAL DA CRUZ
Nossa primeira tarefa na catequese era aprender a fazer o sinal da cruz. Sentávamos em roda e a catequista Verônica pedia que a imitássemos: “Olhem para mim e façam como eu faço”, dizia. Olhávamos atentos os seus gestos, mas nem todos conseguíamos traçar sobre nós as três cruzes com o dedo polegar: na testa, nos lábios e no peito.
Depois de várias repetições, e vendo que precisávamos de maior apoio, ela se aproximava, pegava na mão de cada um e ajudava a fazer o gesto certo. Tudo deveria ser perfeito. A cruz tinha de ser feita da esquerda para a direita, caso contrário se devia repetir desde o início. Somente passaríamos para outra reza quando realmente soubéssemos fazer o “pelo-sinal”, como dizíamos.
Sem saber, atualizávamos ali séculos de tradição cristã. Desde os primórdios de nossa fé, os cristãos foram identificados por esse sinal. Ele é nosso principal símbolo. Alguém, porém, poderia indagar: “E quanto à carga negativa que esse símbolo tantas vezes carregou, espalhando a dor, quando não o signo da dominação?”
Realmente, a cruz foi o instrumento de tortura mais cruel e vergonhoso no tempo de Jesus. Morrer crucificado era uma das piores humilhações. O próprio sentido da palavra indica isso. Cruz vem do latim crucio, que significa tormento ou suplício.
Sim, é verdade também que, em determinados contextos históricos, a cruz esteve de “mãos dadas” com os dominadores, que submetiam os povos a seus pés. A propósito, o primeiro nome que os colonizadores deram ao Brasil foi “Ilha de Santa Cruz” e depois “Terra de Santa Cruz”. Infelizmente, por trás do que se chamava propagação da fé, encontravam-se outros interesses muito distantes do que Jesus anunciou.
No entanto, o verdadeiro sentido da cruz inverte toda essa lógica de dominação. Para o cristão, a cruz significa amor-doação. Vejamos o exemplo de Cristo. Sua morte na cruz representa rebaixamento e humilhação: mesmo sendo Deus, rebaixou-se para quebrar os fundamentalismos e a opressão, partilhando da mesma vergonha dos crucificados do mundo e ressuscitando com eles.
Assim, exaltar a cruz é levantar a bandeira da vida e denunciar os esquemas que roubam a dignidade humana. O “pelo-sinal” nos marca desde o batismo. Por isso, nossa missão é a mesma de Cristo: promover a vida, sempre.
Pe. Antonio Iraildo Alves de Brito, ssp

O objetivo deste periódico é celebrar a presença de Deus na caminhada do povo e servir às comunidades eclesiais na preparação e realização da Liturgia da Palavra. Ele contém as leituras litúrgicas de cada domingo, proposta de reflexão, cantos do Hinário litúrgico da CNBB e um artigo que trata da liturgia do dia ou de algum acontecimento eclesial.
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