O Domingo – Palavra
14 de setembro – EXALTAÇÃO DA SANTA CRUZ

PELO SINAL DA CRUZ

Nossa primeira tarefa na cateque­se era aprender a fazer o sinal da cruz. Sentávamos em roda e a catequista Ve­rônica pedia que a imitássemos: “Olhem para mim e façam como eu faço”, dizia. Olhávamos atentos os seus gestos, mas nem todos conseguíamos traçar sobre nós as três cruzes com o dedo polegar: na testa, nos lábios e no peito.

Depois de várias repetições, e vendo que precisávamos de maior apoio, ela se aproximava, pegava na mão de cada um e ajudava a fazer o gesto certo. Tudo deveria ser perfeito. A cruz tinha de ser feita da esquerda para a direita, caso contrário se devia repetir desde o início. Somente passaríamos para outra reza quando realmente soubéssemos fazer o “pelo-sinal”, como dizíamos.

Sem saber, atualizávamos ali sé­culos de tradição cristã. Desde os pri­mórdios de nossa fé, os cristãos foram identificados por esse sinal. Ele é nos­so principal símbolo. Alguém, porém, poderia indagar: “E quanto à carga ne­gativa que esse símbolo tantas vezes carregou, espalhando a dor, quando não o signo da dominação?”

Realmente, a cruz foi o instrumen­to de tortura mais cruel e vergonhoso no tempo de Jesus. Morrer crucifica­do era uma das piores humilhações. O próprio sentido da palavra indica isso. Cruz vem do latim crucio, que significa tormento ou suplício.

Sim, é verdade também que, em determinados contextos históricos, a cruz esteve de “mãos dadas” com os do­minadores, que submetiam os povos a seus pés. A propósito, o primeiro nome que os colonizadores deram ao Brasil foi “Ilha de Santa Cruz” e depois “Terra de Santa Cruz”. Infelizmente, por trás do que se chamava propagação da fé, en­contravam-se outros interesses muito distantes do que Jesus anunciou.

No entanto, o verdadeiro sentido da cruz inverte toda essa lógica de domina­ção. Para o cristão, a cruz significa amor­-doação. Vejamos o exemplo de Cristo. Sua morte na cruz representa rebaixa­mento e humilhação: mesmo sendo Deus, rebaixou-se para quebrar os fun­damentalismos e a opressão, partilhan­do da mesma vergonha dos crucificados do mundo e ressuscitando com eles.

Assim, exaltar a cruz é levantar a bandeira da vida e denunciar os esque­mas que roubam a dignidade humana. O “pelo-sinal” nos marca desde o batis­mo. Por isso, nossa missão é a mesma de Cristo: promover a vida, sempre.

Pe. Antonio Iraildo Alves de Brito, ssp


O Domingo – Palavra

O objetivo deste periódico é celebrar a presença de Deus na caminhada do povo e servir às comunidades eclesiais na preparação e realização da Liturgia da Palavra. Ele contém as leituras litúrgicas de cada domingo, proposta de reflexão, cantos do Hinário litúrgico da CNBB e um artigo que trata da liturgia do dia ou de algum acontecimento eclesial.

Assinar