10 de junho: 10º Domingo do Tempo Comum | Paulus Editora

O Domingo – Palavra
10 de junho: 10º Domingo do Tempo Comum

AS LÁGRIMAS DE BENÊ

Dona Benedita, ou dona Benê, como é chamada, ficou viúva não faz muito tempo e sofre muito por isso. Mas não se trata de um sofrimento que lhe tira a vontade de viver. Embora todo santo dia chore copiosamente, ela olha e aponta para o alto e, suspirando, pronuncia a frase do pai-nosso: “Seja feita a vossa vontade, assim na terra, como no céu”.

Desde o dia em que seu esposo partiu, foi como se o mundo virasse de ponta-cabeça. Tudo ficou diferente. A vida deixou de ter cores. Até a comida perdeu o sabor. Quando senta à mesa para a refeição e vê aquela cadeira vazia ao seu lado, levanta-se, à procura de agarrar o intocável. Como quem não encontra chão, vai até a porta da frente da casa e olha para o horizonte, com os olhos rasos d’água e um aperto no peito. Reza.

Dona Benê nem se recorda das grandes festas ou dos acontecimentos pomposos vividos em família. Ela se lembra mesmo é dos pequenos afetos: o primeiro cafezinho do dia com o esposo, a comida de que ele mais gostava, o pedaço predileto da galinha caipira. Os fins de tarde sentados na cadeira de balanço no alpendre, quando o sol do interior descia lentamente até o seu ocaso. Lembra-se das manias, das delicadezas e dos gestos simples do companheiro.

Por isso, as lágrimas de dona Benê não revelam desespero, mas uma saudade contida, como se quisesse abrir o peito de tão intensa, uma vontade imensa de reencontrar o amado. Não duvida da bondade de Deus, tampouco o culpa pelo que está passando. Ao contrário, tem uma fé inabalável. Só tira o rosário do pescoço quando o recita, o que, aliás, faz todo dia. Enquanto reza, também chora, porque lembra que cultivara o costume de rezar o terço com o esposo, logo depois do nascimento do primeiro filho.

Quando dona Benê vai à missa, na hora da elevação, mira atentamente a hóstia. Lembra-se do que seu pai lhe ensinou quando, ainda pequena, estava na catequese: “Minha filha, não se desconcentre na hora da missa, e quando o padre elevar a santa hóstia, olhe bem para ela. A hóstia purifica seu olhar, livra você dos perigos e guia você sempre no bom caminho”.

Dona Benê nunca se esqueceu desse ensinamento do velho pai. Homem de poucas letras – só aquelas poucas letrinhas para rabiscar o nome –, porém com uma sabedoria capaz de superar qualquer doutor. É essa mesma sabedoria dos humildes que guia os passos de dona Benê. Apesar do sofrimento, jamais tem boca para blasfemar. Ela jamais duvida da presença da Santíssima Trindade em sua vida.

Pe. Antonio Iraildo Alves de Brito, ssp


O Domingo – Palavra

O objetivo deste periódico é celebrar a presença de Deus na caminhada do povo e servir às comunidades eclesiais na preparação e realização da Liturgia da Palavra. Ele contém as leituras litúrgicas de cada domingo, proposta de reflexão, cantos do Hinário litúrgico da CNBB e um artigo que trata da liturgia do dia ou de algum acontecimento eclesial.

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