81. Mulheres na Bíblia (1) | Paulus Editora

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12/11/2025

81. Mulheres na Bíblia (1)

Por Nilo Luza

Quando falamos em profetas e profetismo na Bíblia, logo nos vem em mente os grandes profetas escritores. Mas no Antigo Testamento, encontramos a presença de muitas mulheres profetisas, juízas, defensoras do povo. São profetisas que denunciam o mal e o pecado, mas sobretudo anunciam a boa nova de Deus. São profetisas da esperança. No mundo dominado pelos homens, nem sempre as mulheres foram reconhecidas e valorizadas como deveriam ser. Vamos lembrar algumas que são mais evidentes e conhecidas, pois não caberiam todas num pequeno artigo.

Sara: Esposa de Abraão, ela pede a Abraão que tome a sua escrava Agar para lhe dar um descendente. Dessa união nasce Ismael. A partir da gravidez e do nascimento de Ismael, Sara teve conflitos com sua serva. Com isso, Agar juntamente com seu filho são expulsos da família. Na velhice, Sara e Abraão geram Isac.

Agar: Normalmente lembramos de Sara, mas temos que ter em conta também sua escrava, Agar. Ela é protótipo de tantas mulheres abandonadas e escravizadas pelos maridos, tendo que assumir sozinhas a criação dos filhos. Neste caso, Abraão, nosso pai na fé, foi omisso ao mandar embora a escrava junto com seu filho. O Deus da vida, porém, não abandona Agar, cumpre sua promessa de uma grande descendência.

Miriam: É considerada profetisa e uma das envolvidas no projeto de libertação dos hebreus junto com Aarão e Moisés. O cântico de Miriam (Ex 15) é um dos mais antigos escritos da Bíblia. Isso significa que, desde o começo, temos a presença de mulheres na história de Israel. Miriam convida as mulheres a tocar tamborim, entrar na dança e cantar em homenagem a Javé, o Deus libertador.

Débora: profetisa e juíza de Israel, liderou o povo na guerra juntamente com Barac, derrotando Sísara. Como juíza, atendia o povo de Israel debaixo de uma palmeira, na região montanhosa de Efraim. Ela procura animar as lideranças da comunidade. É considerada coautora do cântico de Juízes 5, considerado um dos textos mais antigos da Bíblia.

Rute: Bonito exemplo de mulher que, após a morte do marido Malom, permaneceu fiel ao lado de sua sogra Noemi. O livro de Rute é uma novela em torno da emigração de uma família de Belém para Moab e de volta para Belém. Rute proclama uma bonita expressão de fé ao dizer à Noemi: “O seu povo será meu povo, o seu Deus será o meu Deus” (Rt 1,16). O livro era lido em algumas festas judaicas.

Ester: Rainha da Pérsia que, com coragem, intercedeu junto ao rei para salvar seu povo da destruição. O livro de Ester também é uma novela que descreve a vida dos judeus radicados na cidade persa de Susa. Ester é um conto sobre a situação da comunidade judaica que sofre perseguição e ameaça dos impérios.

Judite: O livro trata de uma história fictícia que objetiva restabelecer a fé no Deus que “está conosco” e recuperar a confiança do povo, mantendo-o fiel ao projeto de Javé. Como Jael e Ester, Judite arrisca sua vida e usa seus encantos femininos para cativar e depois trair o general inimigo e assim salvar os filhos e filhas de Israel. Oração e ação caminham juntas no profetismo de Judite, que ora e jejua no tempo da provação e preparação, e oferece um canto de alegria.

Ana: Esposa de Elcana e mãe de Samuel. Embora estéril, Ana era muito amada pelo marido, mas sofria humilhação de Fenena, outra esposa de Elcana. Sendo estéril, é agraciada por Deus com um filho, que o consagra a Deus por toda a vida. Ela, humilhada pela outra mulher de Elcana, representa as mulheres oprimidas sem voz nem vez. Ela confia no Deus da vida, que liberta e faz justiça. Seu cântico (1Sm 2) inspira o magnificat de Maria que louva o Deus cheio de sabedoria e justiça.

Mãe dos Macabeus: Em 2Mc 7, encontramos o martírio da mãe junto com seus filhos. Embora se trate de uma obra edificante, mas tem seu fundamento histórico na perseguição de Antíoco 4º. O relato está no contexto da luta dos irmãos macabeus contra os reis selêucidas. Mãe e filhos se animam mutuamente para enfrentar um tirano. A mãe anônima é símbolo de resistência dos pobres. O texto aponta para a fé na ressurreição dos justos.

Raab: Prostituta que, pela fé, protegeu os espiões hebreus enviados por Josué, por isso, sua família foi poupada durante a conquista de Jericó. Ela se encontra também na genealogia de Jesus, para sinalizar que ele veio para todos os povos. Suas palavras são uma declaração de fé no Deus de Israel. É mais uma estrangeira que adere à divindade dos filhos de Israel.

Hulda: Conselheira do rei e profetisa (2Rs 22,1-20). Josias pede a seus homens de confiança para consultarem a Javé, no entanto eles se dirigem a Hulda, que prediz a desgraça de Jerusalém. Sua função é comparada a de muitos profetas que são consultados pelos reis em momentos difíceis e decisivos. Seu profetismo consiste em alertar a consciência de fé do povo, e tal consciência emerge, com o mesmo grau de agudeza, entre homens e mulheres.

Estas são algumas das mulheres consideradas profetisas, juízas, líderes de comunidades e comprometidas com a luta em favor do povo. Mulheres que se empenham para alertar o povo dos perigos que enfrenta.

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