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Bíblia

16/10/2025

80. Apocalipse

Por Nilo Luza

Como o próprio nome diz, o livro do Apocalipse faz parte da Literatura Apocalíptica. Pode-se dizer que a apocalítica é filha da profecia. Quando a profecia declina, surge a apocalíptica. Muitas passagens dos profetas contêm muitos textos apocalípticos. A literatura apocalíptica não pretende adivinhar o futuro. Ao contrário, é uma crítica a um sistema que oprime o povo. A obra apocalíptica é quase sempre atribuída a alguma figura importante do passado.

O livro do Apocalipse é o último que se encontra nas Bíblias, é a conclusão da profecia bíblica. Apocalipse deriva de uma palavra grega apokalypsis que significa “tirar o véu, revelar”. Costumamos chamar o livro de “Apocalipse de João”, melhor seria “Revelação de Jesus Cristo” (Ap 1,1). O texto revela os planos de Cristo para a terra e para os santos remidos.

O autor do livro se apresenta com o nome de João (Ap 1,1.4.9; 22,8), que chegou a Éfeso por volta do ano 70 d.C., de onde teria escrito o livro. Provavelmente não seria o João apóstolo, pois em nenhum momento assim se denomina. E os apóstolos nesta época já estariam mortos. Não tem como saber quem seria esse João. Ele teria exercido algum ministério nas diversas comunidades descritas nos capítulos 2 e 3. Mais tarde, foi preso e exilado na ilha de Patmos, no final do reinado de Domiciano (81-96). O livro teria sido escrito no final do primeiro século da era cristã.

O autor procura animar as sete comunidades da Ásia Menor (Ap 2-3), região anteriormente evangelizada por Paulo. O objetivo do autor é animar essas comunidades na resistência que, provavelmente, sofriam a perseguição do poder romano. Aderir a religião do imperador implica aceitar o sistema político e econômico que transforma as pessoas em mercadoria.

O livro do Apocalipse quer denunciar o poderio e a tirania do Império Romano e anunciar tempos melhores se o povo se mantiver fiel à palavra de Deus. O livro procura guiar e fortalecer as comunidades cristãs de todos os tempos desafiadas pelas seduções e armadilhas dos impérios que surgem ao longo da história.

Nem sempre é fácil entender o texto do livro, pois é cheio de símbolos e figuras diversas. As figuras e os símbolos do texto são retomados de outros textos, principalmente do Antigo Testamento. A partir desses textos é possível compreender melhor o que está escrito no livro do Apocalipse.

Podemos esquematizar o livro do Apocalipse da seguinte forma:

1. Introdução (Ap 1,1-8): Título e saudação inicial: Jesus é o centro da história. Parece ser uma celebração litúrgica, o leitor inicia o diálogo e a assembleia escuta. O autor se dirige a toda igreja, representada pelas sete comunidades da Ásia. Jesus Cristo é do projeto e ação de Deus: o princípio e o fim, aquele que era, que é e que vem.

2. As cartas às sete igrejas (Ap 1,9-3,22): Jesus está vivo em meio às comunidades. Mensagens às sete comunidades: Éfeso: é convidada a converter-se ao primeiro amor; Esmirna: não tenha medo daquilo que você vai sofrer; Pérgamo: um apelo ao arrependimento, abandonando a doutrina de Balaão e dos nicolaítas; Tiatira: chamada a guardar o que possui; Sardes: é importante vigiar e fortalecer o que ainda não morreu; Filadélfia: sempre perseverar na palavra; Laodiceia: comprar o que é mais importante. Cada comunidade recebe um elogia, mas também um apelo para sempre melhorar. A conclusão única a todas as comunidades: quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas.

3. O destino da história (Ap 4-11): Começam as revelações sobre o que deve ocorrer. Remete ao passado para mostrar o momento presente em que se encontram as comunidades, a fim de alimentar nelas a esperança da vitória e o desejo de se manterem fiéis. Esta parte pode ser desdobrada em três partes.

3.1. A história nas mãos de Deus (Ap 4-5): No lugar ao culto ao imperador, entra um culto ao Deus criador de tudo, único que merece adoração. O livro nas mãos de Deus, criador e senhor, revela o sentido e o destino da história humana.

3.2. Revelação do sentido da história (Ap 6-7): Nesses capítulos, o livro que o Cordeiro recebe de Deus começa a ser aberto. Esses dois capítulos são como que um resumo de todo o livro. O autor mostra o que é a história humana, e como ela está em poder do Ressuscitado e a caminho para o julgamento e a salvação.

3.3. O destino da história (Ap 8-11): Abertura do sétimo selo, desdobrando-se em sete trombetas que anunciam novo êxodo: seis trombetas anunciam seis pragas libertadoras (8-9). A missão profética das comunidades que a separam do momento presente ao fim da história (10). A exemplo das testemunhas Moisés e Elias e a sétima trombeta anuncia a vitória de Cristo e de suas comunidades (11).

4. A Igreja e a Roma pagã (Ap 12,1-20,15): Revela a perseguição do imperador Domiciano (81-96) nos últimos anos do seu governo, além disso o império colocava em perigo a fé das comunidades.

4.1. As personagens do drama (Ap 12,1-14,5): É a luta permanente entre as forças do bem e do mal: a humanidade se defronta constantemente com as ameaças de violência das estruturas de poder. Perseguição do Dragão contra a Mulher (12) e perseguição das Bestas contra o Cordeiro e as comunidades (13,1-14,5).

4.2. A hora do julgamento (Ap 14,6-16,21): A manifestação do julgamento de Deus se expressa inicialmente com a imagem da colheita e depois com o derramamento das sete taças e suas pragas. O povo fiel, que tem a marca do Cordeiro, canta ao Deus libertador por suas obras de salvação.

4.3. O castigo da Babilônia (Ap 17,1-19,10): A exposição sobre o julgamento de Deus prossegue identificando Babilônia (Roma) como capital do mundo. Sua destruição produz o lamento dos setores da sociedade que se enriquecem com ela e foram seduzidos pelo seu esplendor. No céu, a queda da Babilônia é motivo de alegria que celebra a justiça divina.

4.4. O fim (Ap 19,11-20,15): O senhor da história não é o imperador, mas Cristo que vem como cavaleiro para derrotar os poderes que se consideram absolutos. Cristo é a palavra libertadora de Deus. Na justiça divina tem lugar especial àquelas pessoas que em vida assumiram a resistência aos poderes do mal.

5. A nova criação (Ap 21,1-22,5): As visões têm seu ponto de chegada na apresentação de outro mundo, novo e diferente. Nele se realiza em plenitude a aliança entre Deus e a humanidade.

6. Epílogo (Ap 22,6-21): O livro conclui recordando seus temas principais: Jesus virá em breve e as pessoas serão julgadas pelas obras praticadas. Reunido em assembleia, o povo fiel recebe a proclamação da mensagem e reafirma suas opções.

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