A ESPERANÇA NO OLHAR
A esperança é o olhar de mulher grávida no silêncio da madrugada. Um olhar entre o limiar do medo da dor do parto e a alegria de dar à luz. Luz que rompe a escuridão da noite e sorri no clarão da aurora. Luz que manda embora o medo. “Maria deu à luz o seu filho primogênito. Ela o enfaixou e o colocou na manjedoura, pois não havia lugar para eles na hospedaria” (Lc 2,7). Dar à luz é mandar embora o medo e a dor. Maria de Nazaré tem em seus braços a fragilidade humana e a divindade, que veio habitar em nós.
Mamãe Mirian, mulher de muitos partos, sempre diz que a dor do parto é inexplicável, de tão dolorosa; contudo, quando se tem no colo aquela vidinha tão frágil, que chega ao mundo chorando, o primeiro abraço, a primeira amamentação são uma espécie de eternidade.
O apóstolo Paulo usa a imagem do parto para falar de uma realidade cósmica que anseia por libertação e espera um futuro feliz para toda a criação: “Sabemos que a criação inteira geme e sofre até agora com dores de parto” (Rm 8,22). Os gemidos da criação são também os gemidos da humanidade, porque tudo que Deus criou está interligado e tudo o que ele fez é bom. Jesus veio resgatar a bondade do mundo.
A esperança é como o olhar dos pastores do Evangelho, que se deixaram iluminar pela luz da Boa Notícia: “nasceu para vocês um Salvador” (Lc 2,11). A esperança é também como o olhar do sertanejo para o horizonte, em tempos longos de estiagem. Recordo-me dos muitos olhares de papai Antônio (in memoriam) – o Cabeça, como era conhecido. Do alpendre de casa, olhava para o nascente com os olhos semicerrados, por causa de sua vista já turva. Seu olhar procurava algum sinal de relâmpago no horizonte. Ao ver o sinal, nem que fosse um pequeno relampejar, anunciava que brevemente choveria. E chovia!
O Jubileu da Esperança, vivenciado neste ano, é um convite a permanecermos sempre com o olhar para o horizonte, mesmo que nos encontremos ainda na penumbra da realidade histórica conturbada. Jesus é nosso horizonte. Ele é o futuro que advém continuamente ao presente concreto e estreito do ser humano e do universo. “A esperança não decepciona, pois o amor de Deus foi derramado em nossos corações” (Rm 8,5). Nessa esperança haverá um novo parto, um mundo novo. Feliz Natal!
Pe. Antonio Iraildo Alves de Brito, ssp

É um periódico que tem a missão de colaborar na animação das comunidades cristãs em seus momentos de celebração eucarística. Ele é composto pelas leituras litúrgicas de cada domingo, uma proposta de oração eucarística, cantos próprios e adequados para cada parte da missa e duas colunas, uma reflete sobre o evangelho do dia e a outra sobre temas relacionados à vida da Igreja.
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