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Bíblia

18/12/2025

82. Mulheres na Bíblia (2)

Por Nilo Luza

Ainda que frequentemente pouco valorizadas e reconhecidas, encontramos, tanto no Antigo Testamento como no Novo, a presença de muitas mulheres. No Novo Testamento, elas se destacam como profetisas que denunciam o mal e anunciam a Boa-nova de Deus. São profetisas da esperança de um mundo melhor; mulheres generosas que acompanharam Jesus, o serviram e estavam a serviço das comunidades.

No início da era cristã, a cultura do Império Romano considerava a mulher inferior ao homem. No judaísmo não era diferente. O Talmude, livro sagrado dos judeus, dizia que era “vergonhoso” escutar uma mulher em público. Era proibido ensinar-lhe a Lei. Jesus trouxe nova mentalidade a respeito das mulheres. Não tinha preconceito nem problema nenhum em falar e se relacionar com elas em público.

Já na genealogia em Mateus (1,1-17), além de Maria, mãe de Jesus, encontramos mais quatro mulheres, nem sempre bem-vistas: Tamar, nora de Judá, que a engana e a seduz; Raab, prostituta que salvou os hebreus que foram reconhecer a Terra Prometida; a mulher de Urias (Betsabeia), que se uniu a Davi e concebeu Salomão; Rute, estrangeira moabita. Tudo isso indica que a mensagem de Jesus é universal, isto é, destinada a todos os povos, de todas as condições.

Maria Madalena, tenho acompanhado o Mestre, foi a primeira a testemunhar sua ressurreição e a primeira a anunciá-lo aos apóstolos. As irmãs Marta e Maria, muito amigas de Jesus, acolheram-no com muito carinho em sua casa. A atitude de Maria de se pôr aos pés de Jesus, ouvindo-o, era algo inusitado na época. Uma mulher não podia estudar nem ser discípula dos rabinos. Junto à cruz de Jesus, diversas mulheres estavam presentes, ao passo que os homens o abandonaram. Do alto da cruz, Jesus nos confiou sua mãe como nossa mãe. Maria, mãe de Tiago, Salomé e a mãe dos filhos de Zebedeu seguiram Jesus e o serviram. Permaneceram fiéis até o fim. Foram elas que prepararam o corpo de Jesus para o sepultamento.

Numa sociedade machista, Jesus resgata a dignidade da mulher, colocando-a em pé de igualdade com os homens. A mulher, antes do casamento, pertencia ao pai e, depois de casada, ao marido. Em tudo era submissa. Era excluída da vida pública. Não tinha direitos, só deveres. Se olharmos os Evangelhos, perceberemos as atitudes de Jesus para com as mulheres: resgata sua igualdade com os homens, tem-nas como amigas e se hospeda em sua casa, promove sua cura, defende-as diante dos fariseus, é solidário com as que sofrem, perdoa a adúltera, admite ser ungido por elas… Muitas outras atitudes encontramos em Jesus em relação às mulheres.

Em Lucas 8,1-3 fala-se sobre o grupo que acompanha Jesus, não formado apenas de homens. Dele fazem parte também mulheres, o que contrastava com a sociedade da época. Jesus deseja um discipulado de homens e mulheres. Dentre elas, podemos destacar: Maria Madalena (já citada acima), Joana, Suzana e muitas outras. Isabel, mulher idosa de Zacarias, recebe a visita da mãe de Jesus. Uma das profetisas mais proeminentes é Ana, viúva de idade avançada, assídua frequentadora do templo, no qual se punha a serviço de Deus (Lc 2,36). No encontro com a samaritana, Jesus supera o preconceito que havia entre judeus e samaritanos. É no diálogo com essa mulher que ficamos sabendo de Jesus que podemos adorar a Deus em espírito e verdade.

A formação de Paulo, provavelmente, teve certa influência da sua época, uma sociedade patriarcal. É por isso que alguns textos de suas cartas são considerados androcêntricos. Mesmo assim, o apóstolo considerou a igualdade da mulher com os homens. Fiel ao projeto de Jesus, Paulo prega a superação das relações de opressão (Gl 3,28). Há algum texto que parece contradizer essa proposta (cf. 1Cor 14,34-35). Alguns acham que podem ser inserções tardias.

Paulo teve a ajuda de muitas mulheres. Para ele, não só os homens, mas também as mulheres rezam e profetizam (1Cor 11,5). Evódia e Síntique foram colaboradoras do apóstolo (Fl 4,2-3); Loide e Eunice, respectivamente avó e mãe de Timóteo, influenciaram este colaborador de Paulo com sua fé.

Na carta aos Romanos, capítulo 16, Paulo apresenta diversas mulheres que participaram com ele no ministério. Febe, diaconisa da comunidade de Cencreia (Rm 16,1); Priscila, colaboradora junto com Paulo; Júnia, parente e companheira; Trifena e Trifosa, colaboradoras; Júlia e muitas outras. Tabita, discípula e colaboradora da comunidade de Jope, fabricante de túnicas e mantos, foi ressuscitada por Pedro (At 9,36-43). Lídia foi uma mulher atenta aos ensinamentos de Paulo e o convidou a hospedar-se em sua casa (At 16,14).

Apesar dos avanços e de tudo o que as mulheres conquistaram – hoje podem estudar, ensinar, pregar, ser missionárias… –, ainda enfrentam muitos preconceitos e são muito discriminadas. Há muita violência contra as mulheres, muitos feminicídios. Não há dúvida de que grande parte dos setores da sociedade são ainda controlados pelos homens.

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