76. Primeira Carta de João | Paulus Editora

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12/06/2025

76. Primeira Carta de João

Por Nilo Luza

O nome de João está ligado ao Quarto Evangelho e às Cartas Joaninas. As três cartas seguem a linha do Evangelho de João. As três Cartas Joaninas e o Quarto Evangelho provavelmente nasceram das mesmas comunidades do “Discípulo Amado”. A redação das três Cartas, talvez, se deu em Éfeso, Ásia Menor, pelos inícios do 2º século d.C. Provavelmente o autor ou os autores são os mesmos das três cartas. Em 2Jo e 3Jo ele se apresenta como “ancião” ou “presbítero”.

Parece haver grandes conflitos com os adversários dentro e fora das comunidades. Externamente sofrem a perseguição das autoridades romanas. Internamente enfrentam os “anticristos”, os falsos profetas, os filhos de demônio e outros mais. As Cartas Joaninas são uma tentativa para enfrentar esses adversários.

A Primeira Carta de João é como que uma carta familiar. O autor não se apresenta, normalmente usa a primeira pessoa do plural “nós” e no segundo capítulo usa com frequência a primeira pessoa do singular “eu”. O autor provavelmente não será o apóstolo de Jesus. Muitos atribuem a Carta a outro João ou outro autor diferente do apóstolo e evangelista. Talvez seja um discípulo da comunidade joanina. Os destinatários seriam pagão-cristãos, mais provável judeu-cristãos. A Carta foi escrita para contestar vários erros provocados pelos “anticristos” na comunidade.

A obra foi escrita alertando as comunidades contra os falsos mestres, chamados de “anticristos”, “falsos profetas”, “filhos do diabo”, “enganadores” que pregam doutrinas falsas. O termo “anticristo” é exclusivo das três Cartas Joaninas. É o oponente a Cristo. Esses adversários provavelmente faziam parte da comunidade e acabaram se tornando seus opositores (1Jo 2,19).

Podemos esquematizar a Primeira Carta de João em cinco partes, antecedidas por um prólogo e seguidas por uma conclusão:

1. Prólogo (1Jo 1,1-4): Na abertura, o autor praticamente anuncia o tema central da Carta. Ele revela “o que existia desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos, o que contemplamos e nossas mãos apalparam…” (cf. 1Jo 1,1). Com ênfase nos diz que a revelação foi visível, audível e palpável, quem escreve o faz como testemunha ocular. Revela algo concreto e não apenas uma ideia ou simples aparência, como pregavam os “docetistas”.

2. Em comunhão com Deus e com seu Filho (1Jo 1,5-2,28): O autor propõe alguns critérios para mostrar que estamos em comunhão com Deus que é luz. Andar na luz, significa libertar-se do pecado; estar nas trevas é estar longe de Deus. Reconhecer-se pecador é a condição para receber o perdão de Deus. Jesus deu sua vida para nossa salvação. Fazer a vontade de Deus é estar do lado da vida. Viver o mandamento do amor para permanecer na luz. Ter cuidado com o mundo e com os anticristos, que espalham mentiras.

3. Viver como filhos de Deus (1Jo 2,29-4,6): Agora o autor propõe critérios para estar em comunhão com Deus: libertar-se do pecado, praticando a justiça. Quem pratica a justiça revela que é filho do Deus justo, à semelhança de Jesus. Viver o mandamento do amor que é a identidade do cristão. Não se vive o amor só com belas palavras, mais principalmente com ações, com gestos concretos. Por fim, preservar-se do mundo e dos anticristos.

4. Amar a Deus e crer nele (1Jo 4,7-5,12): O amor é o centro da vida cristã. Não se trata apenas de bonitas palavras, mas é algo que se manifesta mediante nossas ações concretas em favor dos irmãos. Deus é amor, somente conhece a Deus quem ama de verdade. Conclui esta parte, resumindo os principais pontos apresentados pela Carta.

5. Conclusão (1Jo 5,13-21): Na conclusão, o autor faz forte apelo à oração. Ela não é meio para satisfazer nossos caprichos egoístas, mas meio para aderir ao projeto de Deus, pedindo sua vontade amorosa que gera vida. Conclui com um alerta contra os ídolos que procuram desviar os membros da comunidade. Para o autor, ídolo é tudo o que produz escravidão e morte.

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