O egoísmo nas conexões | Paulus Editora

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Tecnologia e Pastoral

05/03/2021

O egoísmo nas conexões

Por Ednoel Amorim

Procuramos a todo momento um sentido para aquilo que fazemos, para os lugares que frequentamos, escolhas que fazemos, posturas e todo o resto. Talvez isso se dê, porque uma vida sem sentido traz angústia e desalento, sendo tão importante pôr sentido nas coisas, porém devemos ter cuidado para não atribuirmos sentidos artificiais. É preciso que eles existam de fato.

As atuais e infindáveis redes de conexões que podemos formar na atualidade com os inúmeros aplicativos que estão à nossa disposição criaram laços nunca vistos antes. São conexões rápidas, fáceis, porém, na maioria dos casos, elas são breves e superficiais, não alcançam o tempo suficiente para fincar raízes. Assim, logo estão desfeitas e partem em busca de outras que igualmente serão passageiras. São vínculos viciados e carentes de sabedoria, pois a “[…] verdadeira sabedoria pressupõe o encontro com a realidade. […]” (Fratelli Tutti, 47).

Evidentemente, qualquer classe de juízo é muito perigosa, mas é preciso arriscar em dizer que não estamos acertando nas conexões que fazemos porque estamos buscando a nós mesmos, ou seja, as pretensas relações que estão sendo estabelecidas por alguns nas mídias sociais são extremamente egoístas. Não se interessam pelo que é do outro, criam ilhas que apontam para várias direções, ficam naquela que melhor agradar ao seu ego e não avançam além de meros jogos, nos quais os brinquedos são os sentimentos das outras pessoas, que podem até inconscientemente estarem buscando contatos autênticos, mas transformam-se rapidamente em meros espectadores de uma vida mascarada, pois a verdadeira não aparece nas postagens. O real não é digno de aparecer no Instagram, o filtrado sim!

O Papa Francisco lembrou-nos que a “[…] capacidade de sentar-se para escutar o outro, característica de um encontro humano, é um paradigma de atitude receptiva, de quem supera o narcisismo e acolhe o outro, presta-lhe atenção, dá-lhe lugar no próprio círculo. Mas o mundo de hoje, na sua maioria, é um mundo surdo […]” (Fratelli Tutti, 48). O que é mais interessante, então, para o egoísmo das conexões? Receber curtidas de alguém que está a quilômetros de distância ou o diálogo sincero de quem está ao seu lado no cotidiano? Para quem pauta sua vida no egoísmo, seguramente ficará com aquela experiência que melhor agradar ao seu ego.

Está lançado, pois, o desafio. Façamos de nossa vida uma busca por conexões que durem. Elas podem até nascer no Instagram, no Facebook, Telegram etc., mas não precisam ficar presas aí, podem ir além, formando vínculos saudáveis e promovendo o bem de todos e não apenas interesses de alguns poucos. Quando dizemos que um aparelho celular serve para comunicação e facilita a vida moderna, não pode ser apenas para que o mundo perceba que você existe, pode e deve servir para que você perceba o mundo que está à sua volta, defina meios de ir ao encontro dos demais e transforme-se você também em um agente de mudança, que se abre para acolher a vida que cresce perto de você.

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