Em diálogo pela paz | Paulus Editora

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Religião e Comunicação

01/11/2019

Em diálogo pela paz

Por Darlei Zanon

No coração do Papa Francisco soa fortemente a dor dos cristãos perseguidos no mundo e de modo especial aqueles do Médio Oriente. Mas não somente os dos cristãos: a sua sensibilidade pastoral e paterna, como verdadeiro representante de Cristo no mundo, faz com que acolha o grito de todos os necessitados, independentemente da religião. Uma Igreja em saída, como tanto insiste, deve ir ao encontro de todos os que sofrem, de todos os excluídos, de todos os necessitados, de todos os que vivem nas diferentes periferias, físicas e existenciais.

Inúmeras vezes, particularmente durante o Angelus dominical e nas suas catequeses de quarta-feira, Francisco rezou pelas diferentes realidades de dor do mundo. Recorda regularmente da Síria ainda instável, da Ucrania e suas de feridas, da Terra Santa e seus “muros”, do Iraque ainda cheio de tensões. A esse último manifestou publicamente a vontade de visitar durante o próximo ano, sempre com o objetivo de promover a paz e a comunhão de povos, culturas e sobretudo das religiões. Este, de facto, é o tema central da sua intenção de oração deste mês de novembro. O Papa nos convida a rezar “para que no Próximo Oriente, no qual diversas tradições religiosas partilham o mesmo espaço de vida, nasça um espírito de diálogo, de encontro e de reconciliação.”

Ao mesmo tempo que somos impelidos a rezar por estas diferentes culturas e povos, o Papa Francisco quer que reflitamos sobre a difícil situação no qual vivem e como podemos contribuir. Da sua parte, muito já foram os esforços. Quem não se recorda do famoso encontro por ele promovido no Vaticano entre os líderes de Israel e Palestina, Shimon Peres e Mahmoud Abbas, em junho de 2014, logo após a sua peregrinação à Terra Santa! Aquela foi a sua primeira visita ao Médio Oriente, encontrando-se com líderes de diversas religiões. Ao centro de todos os encontros e eventos está sempre a paz, a busca do diálogo e da comunhão.

Outro testemunho muito significativo o Papa nos deu durante a sua viagem apostólica a Myanmar e Bangladesh em 2017, onde encontrou novamente diversos líderes religiosos. Ali insistiu sobre a “harmonia” como geradora de paz, isso porque “a verdadeira harmonia divina cria-se através das diferenças; as diferenças são uma riqueza para a paz”, insistiu (28 de novembro 2017).

No mesmo ano 2017, buscou semear a paz no Egito, de modo especial durante a conferência internacional em prol da paz, no Cairo. Ao lado do Grande Imã daquele país, que idealizou e organizou o encontro, o Papa recordou que “para evitar os conflitos e construir a paz é fundamental trabalhar por remover as situações de pobreza e exploração, onde mais facilmente criam raízes os extremismos, e bloquear os fluxos de dinheiro e de armas para quem fomenta a violência. (…) Faço votos de que esta nobre e querida terra do Egito, com a ajuda de Deus, possa continuar a corresponder à sua vocação de civilização e de aliança, contribuindo para desenvolver processos de paz para este povo amado e para toda a região do Médio Oriente” (28 de abril de 2017). Na mesma viagem, em uma visita de cortesia ao Patriarca Copto-Ortodoxo Tawadros II, assinou uma declaração comum (28 de abril de 2017) na qual reconhecem a beleza da experiência de comunhão antes do Cisma e a busca atual de plena comunhão e amizade, assim como o esforço de ambas Igreja em construir uma sociedade marcada pela reconciliação e pela esperança, pela justiça e pela paz.

Na sua viagem aos Emirados Árabes, em fevereiro deste ano, o Papa teve um encontro privado com os membros do Conselho Muçulmano de Anciãos (Muslim Council of Elders) na Grande Mesquita do Xeique Zayed. Nesse mesmo dia teve um encontro interreligioso, no qual assinou conjuntamente com o Grande Imã de Al-Azhar, Muḥammad Ahmad Al-Tayyebo, o “Documento sobre a Fraternidade Humana em prol da Paz Mundial e da Convivência Comum”. Neste documento lemos que: “Não há alternativa: ou construiremos juntos o futuro ou não haverá futuro. De modo particular, as religiões não podem renunciar à tarefa impelente de construir pontes entre os povos e as culturas. Chegou o tempo de as religiões se gastarem mais ativamente, com coragem e ousadia e sem fingimento, por ajudar a família humana a amadurecer a capacidade de reconciliação, a visão de esperança e os itinerários concretos de paz.”

Sigamos o exemplo do Papa Francisco e busquemos também nós, na nossa realidade específica e dentro das nossas possibilidades, semear a paz e promover o diálogo e a reconciliação com todos, especialmente os irmãos de outras denominações religiosas.

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