A DIACONIA DA BELEZA NA IGREJA | Paulus Editora

Colunistas

Juventude

16/08/2019

A DIACONIA DA BELEZA NA IGREJA

Por Jerônimo Lauricio

Após meditarmos sobre a Diaconia da Redenção, enquanto o Serviço de Cristo em favor dos homens, hoje vamos iniciar um ciclo de reflexões sobre do Serviço da Igreja a Cristo através da Diaconia da Beleza, da Bondade e da Verdade. Como já vimos anteriormente, o termo grego DIAKONIA, significa “o serviço de cuidado e amor entre os primeiros cristãos”. Isso significa dizer, que servir a Cristo através dos irmãos está no DNA do cristianismo (Mc 9, 35), porque Ele próprio assim viveu e nos ensinou: “Todo aquele que quiser entre vós ser grande, que seja o servo; e todo aquele que entre vós quiser ser o primeiro, seja o último de todos e o servo de todos. Porque o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em redenção por muitos.” (Mc 10,43-45).

Neste sentido, quando falamos da “Diaconia da Beleza”, isto é, seu serviço em favor do anúncio do Evangelho é preciso considerarmos primeiro que a beleza foi sempre algo difícil de ser definido. A “via pulcritudinis”, isto é, a via ou o caminho da beleza, é a presença do Belo em suas mais variadas representações como meio para levar as almas até Deus, Beleza em essência. São Paulo VI, entre os discursos de encerramento do Concílio Vaticano II, ao se dirigir aos artistas, incentivou-os a seguir, o caminho da beleza, dizendo-lhes: “Este mundo em que vivemos tem a necessidade da beleza para não cair na desesperança. A beleza, como a verdade é quem põem alegria no coração dos homens; é o fruto precioso que resiste à usura do tempo, que une as gerações e as faz comunicar-se na admiração”.

Os Padres da Igreja disseram coisas admiráveis em torno da Beleza Divina. Dentre eles, a exaltação que nos parece mais sublime é feita por Dionísio, o Areopagita, que chama a Trindade de “causa sapiente e bela”, graças à qual “todas as coisas estão plenas de beleza e de toda harmonia divina” [1]. Para Dionísio, a Trindade nos oferece a indicação mais preciosa sobre como testemunhar a verdadeira beleza. A beleza trinitária é beleza de relações, ou seja, consiste em relações belas entre Três Divinas Pessoas, expressando desta forma a síntese entre unidade e diversidade. Isso significa dizer que à luz da Beleza da Trindade, devemos trabalhar para também tornar belas as nossas relações: a relação homem-mulher (no matrimônio e fora dele), a relação entre sacerdotes e leigos, entre membros da comunidade religiosa, entre jovens e idosos. Entre toda Igreja e, sobretudo no ordinário da nossa vida quotidiana. E tudo isso só é possível mediante o vínculo do amor. O amor é a moldura que confere beleza a arte de nossas relações.

  1. “A BELEZA QUE SERVE E SALVA O MUNDO”

Na história um dos grandes apreciadores da beleza foi o grande romancista russo, Fiodor Dostoiewski. Foi ele quem nos legou a famosa frase: “A beleza salvará o mundo” dita no livro O Idiota.  Muito tem sido escrito e discutido a respeito desse misterioso provérbio e sua interpretação. “A beleza salvará o mundo“, porque essa beleza é Cristo, a única beleza que desafia o mal e triunfa sobre a morte. Por amor, o “mais belo dos filhos dos homens” tornou-se “o homem das dores”, “sem beleza, sem majestade, sem nenhum atrativo para atrair os nossos olhos” (Is 53, 2). E assim Ele refez a humanidade de cada ser humano e deu a cada um a plenitude da sua beleza, sua dignidade e sua verdadeira grandeza.

Em sua Carta Encíclica Veritatis Splendor, o Papa João Paulo II nos disse que “a luz da face de Deus resplandece em toda a sua beleza no rosto de Jesus Cristo, ‘Imagem do Deus Invisível’ (Col 1, 15), ‘resplendor da sua glória’ (Hb 1, 3), ‘cheio de graça e de verdade’ (Jo 1, 14): Ele é ‘o caminho, a verdade e a vida’ (Jo 14, 6). (…) Assim, a beleza desta imagem incomparável resplandece em nós, que estamos em Cristo, e nos revelamos pessoas de bem pelas nossas obras” (VS nº 2 e 73)

O Papa Emérito Bento XVI comentava, em um dos tradicionais discursos do Papa aos artistas em 2009 assim: “A expressão de Dostoievski, que irei citar, é sem dúvida audaz e paradoxal, mas convida a refletir: ‘A humanidade pode viver -dizia- sem a ciência, pode viver sem pão, mas sem a beleza não poderia seguir vivendo, porque não haveria nada para fazer no mundo. Todo o segredo está aqui, toda história está aqui'”. Em sua conhecida afirmação “a beleza salvará o mundo”, este mesmo autor, via na pessoa de Nosso Senhor Jesus Cristo, a Beleza Redentora.

Todavia, como é que de fato a Igreja pode colaborar com Cristo e evangelizar por meio da Beleza? A esse respeito, queremos nas próximas reflexões nos delimitar a quatro específicos pontos, que de alguma forma, nos indicarão como a Igreja é chamada a ser “servidora da Beleza Divina”: guardando e cultivando criação; preservando o amor verdadeiro; transmitindo a fé e servindo ao mistério da liturgia. Até lá!

nenhum comentário