A canção de todos os povos | Paulus Editora

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Música na Igreja

14/10/2016

A canção de todos os povos

Por Jake Trevisan

O grande “bafafá” dos últimos dias foi a manifestação de inculturação ocorrida no Santuário de Aparecida, durante a procissão de ofertório, no terceiro dia da Novena de Nossa Senhora Aparecida.

Uma encenação de cultura afro-brasileira dividiu opiniões entre profanação do templo e inclusão de culturas.

Assisti ao vídeo e o que vi foi uma breve representação teatral dos negros, vestidos com roupas coloridas originárias da África, e a expressão da devoção mariana desse povo que, na presença de um casal, levava Nossa Senhora Aparecida sobre o andor. A legenda da postagem informa: “Nossa Senhora Aparecida é Mãe de todos os povos e de todas as etnias”.

Porém, fiquei profundamente entristecida quando li os comentários da postagem, pois observei a profunda intolerância do público com a cultura negra.

Se prestarem atenção ao vídeo, não há menção alguma a ritos afros, como umbanda ou candomblé. O que a Pastoral Afro desejou foi inserir as culturas africanas, suas etnias, sua pertença como povo de Deus, no rito litúrgico daquela celebração. E de que modo foram acolhidos por nós?

Imaginem se a encenação fosse de membros de colônia italiana, com dança própria, todos brancos e alegres. Haveria a mesma rejeição?

Momento propício para nos questionarmos sobre qual seria a atitude de Cristo nessa situação, pois, se somos cristãos, deveríamos pensar e agir como ele agiria. Enquanto Ele acolheu leprosos, prostitutas, ladrões, o que nós “cristãos” estamos fazendo? Esta é a nossa Cultura do Encontro? Esta é a Igreja disposta a ir além dos muros da igreja, aberta a uma Nova Evangelização? O que Papa Francisco ainda precisa fazer para testemunhar o acolhimento a todos os povos e, sobretudo, ao que é diferente de nós?

Senti-me como Igreja perseguidora e vi o quanto precisamos crescer na fé, no respeito, na caridade.

A música e a dança inseridas na liturgia têm o papel de aproximar o povo, não somente os convertidos ou sul-americanos, ao amor pascal. Além de identidade cultural, a canção precisa ter a inspiração do Espírito Santo e precisão teológica, sendo assim funcional ao rito e, ao mesmo tempo, convidativa, envolvente. Ela deve conquistar o coração das pessoas; um toque suave que alivia a alma. Ela não está a serviço do próprio eu, mas a serviço dos povos e de cada povo de maneira própria, com proposta e objetivos bem definidos.

Se a liturgia em sua totalidade não insere e não inclui as pessoas, ela se torna estéril.

O Senhor deseja acolher a TODOS ao redor do seu altar.

Não é a Igreja que se molda a mim, mas eu sou e vivo a Igreja global, estando a serviço e dando a vida por ela e pelos meus irmãos.

Ou mudamos nossa mentalidade, ou estaremos pensando sermos “cristãos”. Somente pensando.

 

2 comentários

21/10/2016

Eliaquim Batista Mendes

Ótimo texto, parabéns! Na Paróquia que frequento o Padre é africano e andamos sua roupas coloridas, os panos que enfeitam nossa paróquia (que vem da liturgia africana) e também o lindo jeito de celebrar a liturgia, é uma celebração viva e não deixa, nem um pouco de ser cristã, católica e apostólica. Amo a liturgia e as formas diferente de celebramos a Eucaristia. Parabéns Jake!

28/1/2017

Vanderlei Alves Pereira Junior

Prezada Irmã, Devo, cordialmente, discordar da senhora, tendo em vista dois pontos principais. Primeiro. As rúbricas litúrgicas permitem tal manifestação? Se sim, resta ainda outra questão, caso a resposta seja negativa, não temos que discutir nossas opiniões e gostos subjetivos,sigam-se as regras e ponto. Segundo. Se houvesse qualquer manifestação cultural de outros povos e etnias, a repulsa seria a mesma, ou a senhora não imagina que se alguém dançasse o "Vira" português, isso seria bem acolhido? Não é pela origem (cultural) da manifestação, e sim pelo desrespeito ao sagrado. Pois afinal, a missa, ao contrário do que a senhora afirma, não é para o povo, é para honrar a Deus, vide as missas privadas nas quais não há povo algum, somente o sacerdote e Deus... O sacrifício é ofertado a Deus, pelo bem da Igreja, não é uma festa para os povos. Deus é a parte principal da missa, por assim dizer.Despeço-me amistosamente, fazendo votos de que a senhora viva cada dia mais conforme os ensinamentos da santa doutrina católica. Paz de Cristo.