O LUGAR DO ACOLHIMENTO
Uma palavra poderia resumir a mensagem da liturgia de hoje: misericórdia. Dentre os seus muitos sentidos, podemos destacar aquele presente em sua raiz, o qual evoca a expressão “coração de pobre”. Outro sentido muito evocado no Antigo Testamento é a misericórdia como “útero”. O misericordioso é aquele que acolhe a vida no mais íntimo de seu ser. Deus, nessa perspectiva, é o Pai da misericórdia. Ele gera o povo. Ser misericordioso como Deus é ter espaço para acolher o irmão.
Num olhar frio, a parábola do filho pródigo (Lc 15,11-32), à primeira vista, parece-nos desconcertante. Como um pai pode ser tão bobo? Esse filho rebelde saiu pelo mundo, promoveu “gastanças” e farras, fez tudo que não presta, e agora, quando volta, o pai o acolhe com abraços, beijos e até faz festa!
Ocorre que estamos falando de um amor que “tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” (1Cor 13,7). É amor tão profundo, que bobagem mesmo seria querer entendê-lo com nossa lógica vingativa. O coração do pai não recorda o passado ofensivo. A ele interessa o presente feliz. Interessa o filho vivo e cheio de vontade de recomeçar.
A parábola quer revelar o coração misericordioso de Deus. O Deus que Jesus veio revelar é o do perdão, e não da condenação ou do castigo. É um Deus que, numa linguagem muito simples, se poderia comparar a um pai de coração mole, sempre pronto a acolher o filho de coração duro. Filho que se arrepende e volta para casa.
O pai respeita a liberdade do filho, mesmo que este tenha buscado a felicidade em caminhos errados. Jesus quer nos ensinar que o Senhor ama o pecador, mas abomina o pecado. Pecado que oprime, escraviza, humilha e tira o sentido da vida.
O filho pródigo é a imagem do povo de Deus errante. É também a imagem do povo que quer acertar e sabe que sua única esperança é o Deus verdadeiro. O filho pródigo é cada um de nós. O pai misericordioso nos ensina atitudes de compaixão, tolerância e misericórdia. Nosso coração esteja sempre disponível para acolher o outro e enxergá-lo em sua capacidade de mudança, e não em seus erros.
Essa página da Bíblia põe por terra o orgulho e a arrogância do mundo. Põe por terra todas as iniciativas que tramam a vingança, a humilhação, a morte. “Sede misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso” (Lc 6,36).
Pe. Antonio Iraildo Alves de Brito, ssp
O objetivo deste periódico é celebrar a presença de Deus na caminhada do povo e servir às comunidades eclesiais na preparação e realização da Liturgia da Palavra. Ele contém as leituras litúrgicas de cada domingo, proposta de reflexão, cantos do Hinário litúrgico da CNBB e um artigo que trata da liturgia do dia ou de algum acontecimento eclesial.
Assinar