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Bíblia Sagrada - Edição Pastoral
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CARTAS DE SÃO PAULO

 

Introdução geral

Paulo é uma das figuras mais importantes do Novo Testamento. As informações sobre sua vida estão nos Atos dos Apóstolos e nas Cartas que ele escreveu. Nasceu por volta do ano 10 da nossa era, na cidade de Tarso da Cilícia (At 9,11). Filho de judeus, da tribo de Benjamim, cresceu à sombra da mais perfeita tradição judaica (Fl 3,5). Jovem ainda, foi para Jerusalém, onde se especializou no conhecimento da sua religião. Tornou-se mestre e fariseu, ou seja, especialista rigoroso e escrupuloso no cumprimento de toda a Lei judaica e seus pormenores (At 22,3).

Cheio de zelo pela religião, começou a perseguir os cristãos (Fl 3,6), até que se encontrou com o Senhor na estrada de Damasco (At 9,1-19). A experiência de Jesus mudou completamente sua vida até a morte, situada por volta do ano 67.

Paulo é homem bem preparado. Além de conhecer a fundo a religião de seus pais, possui boas noções das filosofias e religiões gregas do seu tempo. Escreve e fala em grego. Enquanto judeu, tem mentalidade completamente diferente da dos gregos. Mas se esforça para assimilar a maneira de pensar dessa gente. Além disso, é cidadão romano (At 16,37). Ele soube tirar partido desse título, bem como de toda a bagagem cultural que adquiriu, para conduzir todos a Jesus (1Cor 9,19-22).

Lendo o que ele escreveu, podemos ter uma idéia de como era seu caráter: às vezes, muito meigo e carinhoso; outras vezes, severo. Não abre mão e ameaça com castigos. Escrevendo às comunidades, compara-se à mãe que acaricia os filhinhos e é capaz de dar a vida por eles (1Ts 2,7-8). Sente pelos fiéis novamente as dores do parto (Gl 4,19). Ama-os, e por isso se sacrifica ao máximo por eles (2Cor 12,15). Mas é também pai que educa (1Ts 2,11), que gera as pessoas, por meio do Evangelho, à vida nova (1Cor 4,15). Sente, pelas comunidades que fundou, o ciúme de Deus (2Cor 11,2), temendo que elas percam a fé. Quando se faz necessário, é severo e ameaça, exigindo obediência (1Cor 4,21).

Paulo é capaz de amar todos os membros de B as comunidades, sem distinções. Constantemente os chama «caríssimos» e «amados». Quer que todos sejam fiéis a Deus. É assim que se tornarão seus filhos, como, por exemplo, o é Timóteo (1Cor 4,17). É interessante ler as Cartas de Paulo e anotar com quanta freqüência ele usa expressões tais como: tudo, todo, sempre, continuamente, sem cessar, etc., para com elas expressar sua constante preocupação para com todos.

 

Atividade apostólica

Jesus, durante sua vida, se movimentou quase que exclusivamente dentro de uma pequena região, a Palestina. Poucas vezes ele esteve em terras que não pertenciam aos judeus. Falou do Reino semelhante ao grão de mostarda que cresce e abriga os pássaros (Lc 13,18-19). E pediu que os discípulos percorressem o mundo e anunciassem o Evangelho a todos (Mc 16,15).

Depois que se converteu, Paulo começou a anunciar o Evangelho aos judeus. Mas eles o perseguiam e lhe criavam uma série de obstáculos. Diante da rejeição do Evangelho por parte dos seus conacionais, ele se volta para os pagãos (At 13,44-49). Até o fim da vida, Paulo tem consciência de ter sido destinado a levar a Palavra de Deus aos pagãos, pois, em Cristo, o Pai chama todos à salvação. A esse projeto Paulo dá o nome de mistério, e ele é seu principal executor.

Mas não é fácil pôr em prática esse plano quando se trata de aplicá-lo a realidades diferentes daquelas que Jesus de Nazaré viveu. O próprio Paulo não conheceu pessoalmente Jesus. O que ele fez foi a experiência do Cristo ressuscitado. Portanto, ao anunciar o Evangelho aos pagãos, foi preciso adaptá-lo à mentalidade dos ouvintes, respondendo às preocupações que eles tinham, conservando o que era essencial e deixando de lado o que não era importante.

Pelo fato de não ter vivido com Jesus como os demais apóstolos, ele enfrentou sérias dificuldades. Alguns afirmavam: «Ele não é apóstolo, pois não viu o Senhor.» Paulo se defende, contando sua experiência com Cristo (Gl 1,12; 2Cor 12,1-4). Outros diziam: «Só quem andou com Jesus de Nazaré é que pode fundar comunidades.» A essa crítica ele responde, por exemplo, em 1Cor 9,2-3. Outros, ainda, afirmavam: «Ele realmente não é apóstolo. Pois, se fosse, teria a coragem de viver à custa da comunidade. Ele não é livre.» Paulo responde que, para ele, anunciar o Evangelho é uma obrigação (1Cor 9,15-17). Ele cumpre uma ordem. Por isso, não tem direito de ser sustentado por outros. Ele considerava muito perigoso unir pregação do Evangelho com dinheiro. Por isso, preferia ganhar o pão com o suor do rosto, e anunciar o Evangelho gratuitamente (cf. Fl 4,15-17), apesar de Jesus ter dito que o operário é digno do seu sustento (Mt 10,10).

Além disso, ele teve que lutar contra os falsos missionários (cf. 2Cor 10-12), que anunciavam um evangelho fácil, que fugiam da humilhação e da tribulação. Paulo não tem em mãos o Evangelho escrito. Ele o traz impresso na sua carne, marcada por toda sorte de sofrimento (1Cor 11,21-29), a ponto de estar crucificado com Cristo (Gl 2,19), trazendo em seu corpo as marcas da paixão de Jesus (2Cor 4,10; Gl 6,17), e completando, no seu corpo, o que falta das tribulações de Cristo (Cl 1,24). Assim ele pode dizer que já não é ele que vive, mas é Cristo que vive nele (Gl 2,20). É assim que ele anuncia o Evangelho.

 

As Cartas

Paulo foi quem criou a comunicação escrita para o Novo Testamento e foi aquele que mais escreveu. Suas Cartas são anteriores aos textos dos Evangelhos. Quais os motivos que o levaram a escrever? Sem dúvida, suas Cartas são pastorais. Procuram iluminar, com o Evangelho, os problemas enfrentados pelas comunidades cristãs. Ele não inventa teorias, mas tenta, a partir das dificuldades, mostrar o que significa ser cristão, naquele momento e naquele lugar determinado. Por isso é que certas soluções por ele apresentadas devem ser entendidas à luz dos problemas e da realidade que tal comunidade viveu (cf. 1Cor 11,2-16).

Paulo escreveu em grego, mas seu modo de pensar é, na maioria das vezes, o de mestre judeu. Para nós não é fácil acompanhar seu raciocínio. O Antigo Testamento passa necessariamente por Jesus Cristo. Este, com sua vida e pregação, ilumina o ser e o agir do cristão. É por isso que, em suas cartas, encontramos muitas citações do Antigo Testamento. Mas os ensinamentos aí contidos não chegam ao cristão sem serem iluminados, refeitos ou anulados pela pregação e vida de Jesus Cristo, a quem o cristão aderiu pela fé.

 

Como ler as Cartas

A ordem que as Bíblias utilizam para apresentar as Cartas de Paulo é a do tamanho: da maior à menor. Para quem começa a ler Paulo, essa ordem pode não ser a melhor. De fato, a primeira Carta que aparece - aos Romanos - é uma das mais difíceis e um tanto teórica, e não foi a primeira a ser escrita. Ela pressupõe o amadurecimento do pensamento de Paulo, e foi escrita a uma comunidade que ele não fundou nem conhecia.

Portanto, em vez de seguir a ordem de tamanho, sugere-se outro caminho: ler as Cartas segundo a ordem cronológica, ou seja, segundo as datas aproximadas em que foram escritas. Ora, a ordem cronológica não é uma questão pacífica. Os estudiosos discutem ainda hoje qual a época em que apareceram. Mas pode-se traçar um roteiro: começa-se com 1 e 2 Tessalonicenses e, depois, Filipenses. Daí podem-se ler 1 e 2 Coríntios (cf., para isso, a Introdução a 2Cor), prosseguindo nesta ordem: Gálatas, Romanos, Efésios, Colossenses, Filemon, 1 Timóteo, Tito, 2 Timóteo.

Antes de ler uma Carta, seria bom perguntar: Quais os problemas que estão por detrás desse texto? A quais questionamentos Paulo responde? Por que ele precisou escrever? Para entender essas questões, as Introduções serão uma ajuda indispensável, bem como as notas.

Finalmente, lendo as Cartas em ordem cronológica, será possível acompanhar os temas que mais interessam, por exemplo: como deve ser a comunidade?, o que significa ser cristão?, qual a tarefa do agente de pastoral?, qual o projeto de Deus?, como levar à frente a evangelização? etc. Esses e outros temas aparecem com bastante freqüência ao longo das Cartas, e será mais fácil fazer o confronto entre o que Paulo disse a cada comunidade, em tempos e circunstâncias diferentes.




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